Muito se escreveu nas últimas horas a respeito de um suposto fracasso dos tucanos na escolha do candidato a vice-presidente na chapa de José Serra. Bons textos foram escritos, sacadas interessantes foram expostas. A nossa mídia ama esse tipo de futrica que o twitter ajuda a disseminar: as fofocas políticas de bastidores rendem muitas manchetes, ainda que não iluminem o verdadeiro jogo.
Acho que Serra tomou a decisão certa ao tentar emplacar Álvaro Dias de vice, dada a conjuntura eleitoral. Como se sabe, candidato a vice raramente rende algum voto. Ou pelo menos não rende votos em número suficiente para decidir a eleição. A decisão de Serra era a mais adequada não pelos votos que o vice traria, mas por neutralizar um perigo para a candidatura dele no Sudeste/Sul, o palanque unificado de PT-PMDB-PDT no Paraná.
A aritmética é razoavelmente simples. Serra precisa de vitória por ampla margem no Sudeste e no Sul para levar a eleição de outubro para o segundo turno. Não é certo que conseguirá vencer pela margem necessária nem mesmo em São Paulo (por baixo, mais de 60% dos votos). No Rio de Janeiro a situação é desfavorável para a oposição. Em Minas, igualmente.
No Paraná, no entanto, dadas as circunstâncias especiais da relação de Osmar (agora candidato a governador, com Lula e Dilma) e o irmão dele, Álvaro Dias, Serra tinha a oportunidade de usar a indicação do vice para golpear um forte palanque governista.
Não deu certo, por causa da reação do DEM. Os Democratas aparentemente concluiram que a presença de um vice na chapa de Serra é a melhor oportunidade para dar ao partido a exposição necessária, em nível nacional, para evitar uma derrota catastrófica que esmague a representação no Congresso.
É disso que se trata: Serra, para sobreviver, pretendia jogar o DEM aos leões.
As fofocas, intrigas e futricas dos últimos dias, no entanto, duvido que resultem em um só voto ganho (ou perdido) para José Serra em função do nome escolhido (tanto faz Álvaro Dias, Índio da Costa ou um poste).
Dados:
1. A alta aprovação popular do governo Lula;
2. A excelente conjuntura econômica;
3. A capacidade política exibida pela ex-ministra Dilma Rousseff para aglutinar apoios;
José Serra tem sido forçado a se defender no que acreditava ser seu terreno mais favorável, o Sul e o Sudeste. No Paraná, fracassou.
O PT e partidos aliados do governo já engoliram todos os sapos necessários à formação da aliança em torno da ex-ministra Dilma. Olhando os palanques estaduais, fica claro não apenas o poder extraordinário do presidente Lula de delicadamente torcer os braços dos que se colocam no caminho. Ele tem a força e já deixou claro que pretende usá-la para fazer a sucessora. Para o bem e para o mal, esta é a nova realidade política do Brasil. Somos todos, para usar a frase de um colunista, “lulodependentes”.
Comentário
De fato, fazer o PT apoiar Hélio Costa em Minas Gerais e Roseana Sarney no Maranhão são atitudes explicáveis, porém, absolutamente condenáveis.
Como bem disse certa vez Che Guevara: “as concessões são a ante-sala da traição”. Porém, a pureza ideológica do revolucionário não é coerente com a tal da “realpolitik”.
Uma lástima.
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