A mídia é sempre a mesma
Há uma forte reação da imprensa ao programa Bolsa Família, a grande ponte armada pelo governo, por onde passaram, “nos últimos dois anos apenas”, cerca de 20 milhões de pessoas que “entraram na faixa de renda média que, atualmente, compreende 46% dos quase 190 milhões de brasileiros”. As expressões entre aspas são do jornal Financial Times, na edição de 6 de junho.
Lula deu um flagrante nessa reação conservadora. Tão logo surgiram os primeiros acordes da campanha, o presidente chamou o ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, para uma missão.
“Você precisa conversar com o pessoal da imprensa e explicar o programa”, recomendou Lula.
Após a peregrinação, Patrus voltou ao Planalto.
“E aí, como foi?”, perguntou Lula.
O ministro deu a resposta:
“Presidente, todos eles, com palavras diferentes, disseram a mesma coisa: o governo está gastando muito com o social”.
A história foi contada pelo ministro Luiz Dulci para uma platéia de, aproximadamente, 300 pessoas, na Universidade Candido Mendes, no Rio de Janeiro. Ele não citou ninguém. Fez uma referência forte, mas genérica, aos “Barões da Mídia” e, especificamente, “ao maior conglomerado jornalístico do País”.
O episódio tem semelhança com outro de 44 anos atrás. Toda a imprensa (exceto o jornal Última Hora) estava contra Jango. As instituições, no entanto, eram mais frágeis. A Guerra Fria tornava tudo mais dramático para o governo João Goulart, mobilizado para as reformas de base. A principal delas, a reforma agrária, preocupava o presidente. Goulart, então, chamou João Pinheiro Neto, da Superintendência da Reforma Agrária (Supra).
“Você precisa sair a campo e conversar com a imprensa. Fale em nome de Deus. Esse pessoal acha que reforma é coisa de comunista”, alertou Goulart.
A resposta a Goulart, naquela ocasião, foi um golpe militar que freou as mudanças. E deu no que deu.
Visto a distância, o processo que foi interrompido poderia ter evitado, por exemplo, que o símbolo criado por Monteiro Lobato para o homem do campo, o conformado Jeca Tatu, se transformasse em militante do MST.
O dinheiro do programa Bolsa Família, contra o qual reagem, já provocou uma pequena aproximação entre o topo e a base da pirâmide social. O reflexo é a redução de 7% na desigualdade de renda no País entre 2003 e 2007. Milhões de pessoas deixaram a vida miserável, sem nada, e migraram para o contingente dos que têm alguma coisa.
Quem sai da miséria festeja a pobreza. É o que fazem os “novos pobres” do Brasil.
O PT volta ao jogo
Pesquisa do Vox Populi, feita no início de junho, vai criar um problema para as Cassandras que prenunciaram o fim do PT, a partir do estrago provocado pela crise do Valerioduto.
Ressurgiu a imagem positiva do partido que os próprios petistas julgavam perdida para sempre.
Os números, que serão divulgados na próxima semana, indicam que a maioria dos eleitores considera que no PT é onde ainda há “mais políticos honestos”.
Há também a indicação de que o PT, mais do que qualquer outro, é o partido que mais “contribui para o progresso do País”.
A popularidade de Lula certamente influiu no resultado.
O vai-e-vem de Jobim
É um bom exercício de paciência seguir as pegadas do ministro Nelson Jobim nesse capítulo do uso do Exército na segurança interna.
Como ministro da Justiça de FHC, ele assinou a promulgação da lei que transferiu para o Tribunal do Júri o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, praticados por militares contra civis. Mas, sete dias após, enviou ao Congresso um projeto corretivo, ainda em tramitação, porque a lei promulgada era inconstitucional.
De toga, no Supremo Tribunal Federal, Jobim tornou a mudar de curso. Julgou que, “apesar das imperfeições”, a lei valia.
A ocasião faz o jurista de plantão.
Tranca
Está “totalmente engavetada” a CPI da Abril, segundo o deputado Chico Alencar, do PSOL.
Ela foi criada (181 assinaturas) para apurar a venda da TVA para a Telefônica. A negociação foi aprovada pela Anatel sob condições. Haveria um contrato de gaveta que daria ao grupo espanhol (estrangeiro) o controle da emissora. A Constituição veta.
Adversários do deputado Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara, dizem que, ao manter o bloqueio da CPI, ele ganhou uma entrevista simpática nas páginas da revista Veja.
Maldade. Provavelmente, tudo não passa de coincidência.
Boca de fogo
Para Cesar Maia, a “virgindade ético-acadêmica dos tucanos paulistas” está definitivamente afetada pelas investigações da Polícia Federal, “daqui e d’alhures”, sobre o caso Alstom.
Atento ao programa do PSDB, exibido na quinta-feira 19, o prefeito carioca percebeu que a memória do ex-governador paulista Mário Covas pontuou o roteiro no capítulo da moralidade. Maia ironizou:
“Na falta de símbolos vivos, apelou-se aos mortos”.
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