O Banco Central segue uma máxima: em qualquer hipótese, mais juros. Se a inflação está alta, mais juros para derrubá-la. Se está em queda, mais juros para que não suba de novo. Se está parada, mais juros para que continue assim.
Não fosse essa visão extraordinariamente ortodoxa, de quem não tem a menor preocupação com seqüelas da política de juros – como aumento da dívida pública, aumento do endividamento privado – o BC trataria de analisar desdobramentos da atual onda de aumentos dos alimentos, a chamada inflação importada.
A primeira, dados recentes da FAO (Fundo das Nações Unidas para a Alimentação) indicando um pico das cotações mundiais de alimento e a tendência de começarem a ceder. A segunda, dados de consumo dos brasileiros.
Ocorreu em 2002. A inflação elevada corroeu a renda especialmente das faixas de menor poder aquisitivo. Sem renda, não houve como convalidar o ritmo de alta dos preços. Lá por abril de 2003 a inflação não tinha mais fôlego para prosseguir.
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De certo modo, em grau menos drástico, é o que está ocorrendo agora. Segundo estudo da LatinPanel, entre janeiro e março de 2008 o volume de compras para abastecimento do lar ficou estável na comparação com igual período do ano passado. Já com relação ao último trimestre de 2007, houve retração de 4%.
Os alimentos foram os responsáveis pela maior baixa no período, com 6% no volume consumido entre janeiro e março deste ano. Na classe DE, a retração foi ainda mais acentuada: 7% com relação ao último trimestre de 2007.
As bebidas também tiveram queda no volume de consumo das famílias brasileiras, com recuo de 3%. Já as cestas de higiene pessoal e de produtos de limpeza se mantiveram estáveis no período.
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Menos renda, mais dificuldade em manter as prestações em dia. Segundo dados do Indicador Serasa de Inadimplência Pessoa Física, de janeiro a abril a inadimplência dos consumidores cresceu 6,7% frente a igual período de 2007.
O primeiro lugar na lista da inadimplência ficou com os bancos, com uma participação de 43,1% no indicador. Cartões de crédito e financeira aparecem em seguida, com 31,5%, ao passo que cheques devolvidos têm o terceiro lugar, com 23,1%.Segundo o levantamento, o valor médio das dívidas é de R$ 433,62, resultado 25,4% maior que o observado entre janeiro e abril do ano passado. Para os técnicos da Serasa, o aumento do endividamento da população conjugado à redução da renda disponível refletiu na alta do indicador de inadimplência no primeiro quadrimestre do ano.
De acordo com o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) medido pela Fecomércio, houve redução de 1% na confiança do consumidor paulista no mês de maio, na comparação com o mês anterior. Foi a primeira variação negativa nos últimos oito meses. Já em comparação com maio do ano passado, o índice registrou alta de 16,2%.
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É essa dinâmica, de queda de renda, de estabilidade nos preços agrícolas, de entrada das novas saras, que deverão garantir a estabilização da inflação nos próximos meses.
Mas o Banco Central sempre poderá alegar que foi a alta de juros que impediu a explosão de preços. E não haverá como rebater a posteriori.
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