■ Historicamente sob ameaça da mão de ferro do Estado, a imprensa está hoje inteiramente subordinada aos interesses de grupos econômicos. Cabe à sociedade se mobilizar na forma de um quinto poder que fiscalize os abusos do quarto, representado pelos meios de comunicação. Paradoxalmente, o próprio Estado pode ser um agente importante nesse esforço, ao financiar mídias “alternativas” como as tevês públicas. Essa foi a mensagem do jornalista e intelectual espanhol Ignacio Ramonet, em palestra proferida nesta 2ª.feira (26/ 5), no Instituto Cervantes, em São Paulo, sob moderação do sociólogo Emir Sader.
■ Nascido na Galícia e criado no Marrocos, Ramonet vive desde os anos 70 na França, onde dirigiu por quase duas décadas o Le Monde Diplomatique. Ele ostenta um extenso currículo dedicado ao ativismo político de esquerda, sendo um dos fundadores da ONG Media Watch, que combate a excessiva mercantilização da mídia; mentor do Attack, movimento que prega a taxação global das transações financeiras com fins sociais; e ainda apoiador de primeira hora do Fórum Mundial Social.
■ Na visão de Ramonet, a enfática defesa da globalização pelos meios de comunicação serve de interesse exclusivo dos donos dos próprios veículos. “A imprensa livre sempre dependeu da cidadania para se legitimar diante dos governos, mas, com a globalização, sai de cena o papel do Estado e ganham espaço os grandes grupos econômicos. Os conglomerados de mídia, por sua vez, não dependem mais da opinião pública para sobreviver e passaram a atuar como porta-vozes desses mesmos grupos aos quais pertencem. De aliada, a mídia se tornou a nossa pior adversária”, lamenta.
■ Na opinião do acadêmico, doutorado em Semiologia pela Universidade de Paris, essa distorção ganhouforça no momento em que toda a mídia se digitalizou e o conceito de especialização – como jornais, tevê e rádio – perdeu o sentido. “A comunicação tornou-se uma espécie de fluído, disponível até pelo celular, o que atraiu o interesse de empresas de outros segmentos. Lamentavelmente, os veículos não são mais comandados por jornalistas, mas por executivos formados em finanças, cujos interesses não estão na veracidade da informação”, critica. (…)
■ Consultor da Telesur, canal de notícias em espanhol financiado por Hugo Chávez, Ramonet é defensor do fortalecimento das tevês públicas na América Latina, corroborando com o modelo da TV Brasil capitaneado pelo governo Lula. “Os países latino-americanos precisam incentivar a criação de redes de financiamento público sob controle da sociedade civil, aos moldes das tevês européias”, opinou Ramonet. (…)
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