O prefeito Cesar Maia acredita que eleição é a arte do cálculo político. Baseado nesse princípio, ele criou agora uma cartilha: “31 dicas para a campanha eleitoral”. O decálogo abaixo traduz a essência do pensamento do burgomestre carioca. Um verdadeiro manual de ataque e defesa.
1. O seu adversário de votos é quem pensa como você ou se dirige ao mesmo perfil de eleitor.
2. Primeiro o eleitor decide em quem não se deve votar. Ajude.
3. Discuta só o tema que você propôs. O tema proposto pelo adversário deve ser simples ponte para você chegar ao seu.
4. Defina o “inimigo”. Depois dê nitidez a ele. Só você pode desmontá-lo.
5. O tema honestidade é visto pelo eleitor de outra forma. O tema certo é confiança.
6. O centro é o alvo, não é o ponto de partida. Ou seja, se parte desde posições nítidas para se atingir espaços políticos de centro.
7. As pesquisas mexem com o animus de campanha. E com o financiamento.
8. Os ataques devem ser desconcertantes, surpreendentes. As agressões – gritos e palavras chulas – ofendem o eleitor.
9. Não ataque todas as candidaturas no primeiro turno. Você precisará de uma delas – pelo menos – no segundo turno.
10. Em debates, perguntar é sempre mais arriscado que responder.
O item 10 parece inspirado pela pergunta do senador Agripino Maia à ministra Dilma Rousseff.
::
Conversa sobre a cegueira
Embora a democracia seja o regime da desconfiança institucionalizada apoiada no princípio legal da fiscalização, a classe média brasileira, atiçada pela mídia, anda desconfiada demais. Uma desconfiança sustentada pela perigosa manipulação de um moralismo que não é outra coisa senão a manipulação hipócrita da ética.
O Brasil, nesse sentido, faz um vôo cego.
Não se trata de tentar obstruir a ação da Justiça e de seus agentes. Mas é sabido que, se todos os crimes fossem descobertos, não somente o rei, mas, também, os homens mais comuns estariam nus, como argumenta o sociólogo Ralf Dahrendorf, que vê um sentido positivo em certo nível de ignorância.
“Popitz sustenta com magnífica ironia um ponto importante, segundo o qual nenhum sistema de normas agüentaria o conhecimento total de todas as violações”, cita Dahrendorf no livro A Lei e a Ordem, publicado pelo Instituto Tancredo Neves. E tome mais uma magnífica ironia. O Tancredo Neves é um órgão de ação partidária dos Democratas (ex-PFL). Nada mais, nada menos.
Planeja-se agora, às vésperas da eleição, o atentado a um dos mais caros princípios das leis democráticas: a presunção de inocência. É uma seqüência, quase que natural, dos aplausos à decisão do deputado Roberto Jefferson de acusar sem apoio em provas. Os cidadãos podem julgar, na hora de votar, a partir de convicções pessoais. A Justiça tem de se apoiar em provas para julgar e condenar.
A Igreja amplia e pavimenta esse caminho antidemocrático ao propor o veto a candidatos que estejam sendo processados judicialmente. Os Tribunais Regionais Eleitorais engrossam o movimento e, surpreendentemente, o ministro Carlos Britto, do Supremo Tribunal Federal, apóia a causa.
Resta a pergunta: e se um candidato vetado por responder a processo, ao fim do julgamento, for declarado inocente? Quem vai ressarci-lo dos danos morais e materiais? E, no caso, com a posição que a Igreja tomou, não dá nem mesmo para reclamar com o bispo.
É sabido que, no Brasil, o assalto aos cofres públicos é um vício ancestral. Vício que desembarcou por aqui numa das caravelas de Cabral. Em qualquer cantinho escuro que for iluminado arrisca-se a flagrar uma orgia com o dinheiro público.
Políticos, juízes e jornalistas, entre tantos outros, parecem buscar cegamente a ruína da validade das normas. É possível datar essa sofreguidão a partir da eleição de Lula. A entrada do operário no Clube dos Eleitos, onde só se tinha acesso com diploma ou com espada, empurrou os derrotados para uma posição de confronto com as instituições democráticas. O ataque ao Congresso pressupõe que o País seria melhor sem ele. Mas, resta pensar, que nome se daria ao regime?
::
Andante Mosso
Reaparece a IV Frota (1)
Em boletim recente, de circulação restrita, a Stratfor, agência privada de informações dos EUA, ao analisar a decisão do governo americano de reforçar a presença militar nas águas da América Latina com a reativação da IV Frota, puxa para a cena um dado importante.
A gigantesca descoberta de petróleo no litoral brasileiro:
“O recente anúncio da possível descoberta de um campo de petróleo em águas brasileiras mostra que o peso da região é crescente (...) Os militares americanos se preparam para dar mais segurança à região, na medida em que ela se tornar mais significativa geopoliticamente”.
Reaparece a IV Frota (2)
Para a Stratfor, chamada nos Estados Unidos de “A CIA na sombra”, o Brasil continua a buscar mais “poder e influência” na região com a expansão de sua força naval. A reação norte-americana é assim:
“Os Estados Unidos, entrando no jogo mais cedo, mostram efetivamente o desejo de engajar o Brasil na regra de manter a cooperação para evitar a competição”.
A iniciativa do Brasil, a presença de Chávez, de Morales e a descoberta de petróleo mudaram o foco da Casa Branca na região.
Marina semeou
O gesto de renúncia da ministra Marina Silva somou dignidade e coragem. Na dose certa e na hora exata.
Ela soube pelo noticiário que tinha perdido o controle de alguns assuntos da área do ministério que comandava. Fez o Planalto saber pelo noticiário que tinha se demitido.
A tensão no ministério vai continuar, porque Marina mostrou que é preciso desenvolver sem depredar.
No século XX, o crescimento no Brasil foi autoritário, concentrador de renda e predatório. No século XXI tem sido democrático e Lula começou a distribuir renda.
Falta incorporar a qualidade socioambiental ao desenvolvimento.
Dose dupla
Os dois maiores problemas do governo no momento são:
A Marina ter saído e o José aparecido.
Cena brasiliense
Nasceram no Rio de Janeiro 11 dos 15 ministros do Superior Tribunal Militar.
Um paulista, um mineiro, um cearense e um norte-rio-grandense compõem o restante daquela Corte.
Essa representação é um retrato da esmaecida federação brasileira.
Sob fogo cerrado
Os seguranças do governador Sérgio Cabral, do Rio, têm sido vítimas da violência.
Um policial da guarda pessoal dele foi fuzilado no bairro da Abolição, na zona norte. Uma capitã PM, da segurança dos filhos do governador, foi assaltada perto do Palácio Guanabara, onde Cabral despacha. Na terça-feira 13, três PMs da segurança da família do governador foram rendidos e perderam um fuzil e duas pistolas.
A polícia carioca tem combatido duramente os traficantes. Ações, por sinal, alvo de críticas das organizações de direitos humanos.
Essa seqüência de episódios pode ser coincidência. Mas pode não ser. Afinal, se o cavalo ganha uma vez, é sorte; se ganha duas, é coincidência; se ganha três vezes, é melhor apostar no cavalo.
Rota de colisão
Ao se aproximar a data do 20º aniversário, é possível perceber duas grandes linhas de divergência em torno da Constituição.
De um lado, há quem, como o ministro Gilmar Mendes, enalteça as emendas feitas à Carta. De outro, os que acreditam, como o presidente Cezar Britto, da OAB, que as emendas descaracterizaram a Constituição.
O vôo de Garotinho
O ex-governador Anthony Garotinho está com um pé no PSDB.
Vai aguardar as eleições para dar o passo à frente. Antes, quer eleger o maior número possível de prefeitos e vereadores para dar vigor aos debilitados tucanos fluminenses.
Enquanto isso, ele pavimenta as relações com os futuros correligionários. Freqüentemente, no blog, Garotinho faz reverências ao ex-presidente Fernando Henrique e ao senador Arthur Virgílio.
Só falta dar um abraço público no governador José Serra, como fez com o constrangido Geraldo Alckmin na campanha eleitoral de 2006.
Nenhum comentário:
Postar um comentário