A partir de 1º de julho, o governo dos Estados Unidos aumentará a força militar na América Latina e no Caribe, com a reativação da Quarta Frota oficialmente encarregada de patrulhar os mares da região. A informação, veiculada esta semana pela BBC, não é nova. Mas ela reativa também as preocupações com os conflitos políticos latentes na região.
A informação circulou timidamente no fim de 2007 e, em seguida, mergulhou num expressivo esquecimento. O álibi do Pentágono desta vez – à falta do pretexto de armas químicas, como no Iraque – foi a de que a medida visava combater o terrorismo e as atividades do narcotráfico.
A Quarta Frota é uma velha conhecida do continente. Foi criada, durante a Segunda Guerra Mundial, para combater os alemães que atacavam navios mercantes nas águas da América do Sul. Foi desfeita em 1950. Reativada, ficará baseada em Mayport, na Flórida. Segundo comunicado do Pentágono, a Quarta Frota “é uma demonstração do compromisso dos Estados Unidos com seus aliados da região”.
Há nessa decisão um recado direto para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e, indiretamente, para todos os governos populares que não se alinham com à política externa norte-americana.
Não foi por acaso que, simultaneamente à decisão americana, o senador e ex-presidente José Sarney, que manteve a política externa brasileira alinhada a Washington, subiu à tribuna do Senado para alardear preocupações com o investimento de Chávez na compra de armamentos na União Soviética.
“Se a situação de potência militar se concretizar, será uma corrida armamentista na América Latina. Será o desequilíbrio estratégico do continente”, disse o alarmado Sarney.
Mas o argumento da corrida armamentista é falso. “Um mito”, como argumenta o professor Rafael Villa, da USP, em artigo escrito para o Observatório Político Sul-Americano, publicado pelo Instituto Universitário de Pesquisas (Iuperj), da Universidade Candido Mendes.
“E pode parecer surpreendente, mas na relação entre gastos em Defesa em proporção ao PIB a Venezuela é apenas o quarto dos principais países sul-americanos”, analisa Villa (gráfico). O Equador é o que mais gasta (3,14%) e entre os sul-americanos é o Chile (2,94%), seguido da Colômbia (2,65%) e do Brasil (1,74%). A Venezuela aplica 1,39% do PIB e é o país andino que menos investe em armamentos.
A suposição do ex-presidente Sarney não resiste à mais ligeira análise política ou factual. Mas, para efeito de argumentação, se a corrida armamentista existisse, quem a teria iniciado ou estimulado?
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