Em 23 de maio, em conversa com editores do jornal Argus Leader, do estado de Dakota do Sul, Hillary Clinton explicou por que não vê razão para desistir, apesar de Barack Obama já ter a maioria absoluta dos delegados comprometidos (1.660 de um total de 3.253, ante 1.499 dela) e estar perto da maioria absoluta da convenção, superdelegados incluídos (1.979 em 4.049, ante 1.781 da rival).
“Meu marido não garantiu a nomeação em 1992 até vencer a primária da Califórnia em algum dia do meio de junho, certo? Todos nós lembramos que Bob Kennedy foi assassinado em junho, na Califórnia. Eu não entendo.”
Os ouvintes entenderam – e devem ter ficado chocados, por mais cínicos que fossem. Em 5 de junho de 1968, Robert Kennedy venceu as primárias da Califórnia e fortaleceu-se como candidato para a convenção democrata, mas à noite foi baleado e morreu no dia seguinte, o que garantiu a indicação de Hubert Humphrey, vice de Johnson (que perdeu para Nixon).
Como certos personagens de Woody Allen, Hillary veste o inconsciente por cima do tailleur. Agora se tem o direito de imaginá-la exercitando o pensamento positivo (no qual parece ser muito versada) a visualizar o concorrente coberto com um lençol sobre a calçada – ou, quem sabe, linchado e pendurado em alguma árvore –, enquanto ela profere, emocionada, o discurso de aceitação da candidatura democrata.
Seria ingenuidade pensar que alguém pode chegar a candidato presidencial nos EUA sem ser, potencialmente, uma máquina de matar. Mas talvez não seja pedir demais aspirar a que não seja uma máquina descontrolada. Essa disposição de destruir quem quer que se ponha no seu caminho é de assustar os mais pessimistas em relação ao sistema político estadunidense.
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