O governador José Serra precisa mandar que a maioria tucana na Assembléia Legislativa de São Paulo afrouxe o garrote com que asfixia a oposição. Num só dia ela derrubou seis pedidos de convocação de cidadãos que poderiam oferecer explicações para que se entenda a denúncia de que nos anos 90 a empreiteira Alstom pagou propinas a hierarcas do governo do Estado. Coisa de US$ 6,8 milhões.
Esmigalharam até mesmo um pedido de informações ao Ministério Público e à Polícia Federal. Era apenas a prática da velha e boa prática parlamentar de fazer perguntas para obter respostas. O jabaculê da Alstom foi descoberto numa investigação conduzida pelo governo suíço e ex-diretores da empreiteira reconheceram que distribuíam dinheiro mundo afora. A Alstom forneceu equipamentos ao Metrô de São Paulo e à usina hidrelétrica de Itá, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.
Desde que o assunto foi para a vitrine, em maio, já apareceram uns dez nomes e localizou-se uma lavanderia de dinheiro. Mark Pieth, presidente do Grupo Anticorrupção da OCDE, disse ao repórter Assis Moreira que, em 2005, no Estado de São Paulo, pessoas que eram responsáveis pela compra de equipamentos não pediram suborno para eles, mas sugeriram que a empresa fizesse "pagamento ou presente político", para o caixa de partido.
O tucanato paulista blinda seu armário de esqueletos de acordo com a doutrina que a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) enunciou logo depois da denúncia da maracutaia da VarigLog. Quando ela soube que a oposição queria convocar a comissária Dilma Rousseff para explicar seu papel no episódio, respondeu: "Nem morta vou permitir a aprovação desse requerimento. Chega de inventar novidade para tumultuar e criar factóides".
Em São Paulo, a tentativa de saber alguma coisa sobre uma mordida de US$ 6,8 milhões foi chamada de "kit PT" por Serra. Em Brasília, dois dias depois, a senadora petista chamou de "factóide" a denúncia de uma ex-diretora da Anac envolvendo o favorecimento da VarigLog.
Apesar de tudo, a bancada do governo mostrou-se mais flexível que o tucanato de São Paulo e concordou com a expedição de convites a 12 pessoas envolvidas no rolo aéreo. Ou o senador Arthur Virgílio vem a São Paulo ensinar boas práticas aos tucanos, ou Serra vai a Brasília ensinar sua arte ao PT.
Comentário: Isto vindo de um serrista histórico.
Talvez pra tentar dar o ar de "imparcial".
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