Cabral falou antes
À margem da denúncia de que alguns ex-integrantes da cúpula do poder no Rio de Janeiro, notadamente o ex-governador Anthony Garotinho e o ex-chefe de polícia Álvaro Lins, estariam envolvidos com o crime organizado no estado, foi flagrado mais um delito contra o telespectador, praticado pelo jornalismo da TV Globo.
A segunda edição do jornal local, o RJ/TV, do dia 3 de junho, noticiou que Álvaro Lins, além das acusações de agora, sofreu denúncia da Polícia Federal por “crime eleitoral”. Durante a campanha de 2006, ele teria prometido a 2 mil concursados para a Polícia Civil de que seriam contratados. Álvaro prometia realizar a mágica que os políticos fazem, para cidadãos incautos, antes das eleições. Mas, pelas regras eleitorais, ele teria incorrido no crime de “compra de votos”.
“Se vocês não entrarem para a Polícia Civil, eu rasgo a minha carteira”, disse o candidato, conforme um vídeo gravado pela Associação dos Excedentes do Concurso da Polícia Civil e usado como prova pela PF.
Anteriormente, o vídeo tinha sido usado na representação do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) contra Lins, por quebra de decoro parlamentar. Ninguém deu bola e a denúncia foi engavetada.
O “crime” da Globo foi suprimir trechos do vídeo que mostram outros candidatos na mesma cerimônia: Sérgio Cabral Filho, que foi eleito governador, Francisco Dornelles, eleito senador, e Marcelo Itagiba, eleito deputado federal.
Os candidatos, certamente, não pediram o favor à emissora, mas a Globo tem o vício de comprometer o jornalismo e, aos poderosos, prestar serviços não encomendados.
“Esse é o meu compromisso, de convocar todos vocês. Vamos preencher todas as 2 mil vagas”, disse Cabral.
Eis aí a prova do milagre da multiplicação: 2 mil candidatos para 250 vagas.
Álvaro Lins falou em seguida. Ergueu a mão de Marcelo Itagiba, ex-delegado da Polícia Federal e ex-secretário de Segurança do governo Garotinho, e chamou a atenção dos concursados para o compromisso assumido por Cabral, ao qual se referiu, premonitoriamente, com governador.
“Vocês ouviram o que o governador falou. É só querer. E ele já assumiu o compromisso. Eu nunca tive um governador pra assumir o compromisso junto conosco. Vocês viram aqui hoje. Nunca aconteceu. É a primeira vez.”
Se há crime no episódio, por que só Álvaro Lins teria transgredido a lei eleitoral? A Globo escondeu isso. Intencionalmente. Mais uma vez.
Andante Mosso
Preconceito de caserna
A punição do sargento do Exército Laci Marinho fede a preconceito.
No processo que tramita na 14ª Vara Federal, em Brasília, há evidências de que Laci sofre perseguição nos quartéis.
Ele denunciou o general Adhemar da Costa por ato administrativo ilegal, praticado quando o oficial comandava a 11ª Região Militar, como retaliação à opção sexual que fez.
O réu, no caso, é o atual Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército.
Essa homofobia tem base legal desde os tempos do presidente Eurico Gaspar Dutra, um general carola. Um decreto-lei de 1941, ainda em vigor, torna incompatível o militar que “se corromper moralmente pela prática de atos contrários à natureza”.
Contrário à natureza é pisar na grama.
O alerta de Chávez
Perdida em meio à transcrição do mais recente encontro de Hugo Chávez com intelectuais brasileiros foi encontrada uma observação do presidente venezuelano:
“Até futebol se joga bem agora na Venezuela. Um dia desses poderemos ganhar do Brasil”.
Ele deu também um aviso: Tengan cuidado!
A conversa foi no dia 22 de maio. No dia 6 de junho, o fato se consumou.
Pedra no caminho
De Paulo Vanucchi, Secretário Especial de Direitos Humanos, ao citar algumas conseqüências da queda do Muro de Berlim.
“Uma pedra do muro caiu na cabeça do Roberto Freire e ele ficou à deriva”.
É um exemplo perverso dos efeitos para a esquerda. Principalmente daquela variedade próxima à extinta União Soviética.
Entupimento
Está obstruído o canal de comunicação entre Lula e Tarso Genro.
O ministro da Justiça não esteve no encontro do presidente com alguns intelectuais, em São Paulo, no dia 16.
A ausência foi notada. Não foi sentida.
Gás político
Alguns parlamentares precisam dar um tempo em projetos de lei que entram na área de atuação da Agência Nacional de Petróleo, indiferentes às normas técnicas.
O exemplo mais recente é a proposta de venda “a granel”, como acontece com a gasolina, do GLP e o envasamento de botijões em postos de combustíveis.
A confusão foi tanta que essa “obra”, da lavra do deputado José Carlos Machado (DEM-SE), chegou a ser aprovada por uma comissão do Ministério de Minas e Energia, mesmo depois de a ANP ter emitido nota oficial contra.
Transposição das mágoas
Lula está mesmo muito magoado com dom Ivo Carpio.
No encontro com intelectuais, dirigiu o olhar inquiridor para Leonardo Boff, quando falou da greve de fome do bispo contra a transposição das águas do São Francisco.
“Eu assisti a Brasil e Holanda na casa dele, em 1974”, lembrou.
Para o presidente, o caso com dom Carpio saiu da margem política para a margem pessoal.
A estrela sobe
Aliás, Lula quer se encontrar com a atriz Letícia Sabatella e mergulhar fundo nesse debate sobre o rio São Francisco com ela.
Só falta marcar dia e hora.
Caso de polícia
Uma auditoria encomendada por Wadih Damous, presidente da seccional da OAB no Rio de Janeiro, flagrou um rombo nas contas da Caixa de Assistência ao Advogado (Caarj).
Não é pouca coisa: R$ 60 milhões em dívidas com o plano de saúde, hospitais e laboratórios.
A auditoria deu base ao Ministério Público para pedir a abertura de inquérito na Delegacia de Defraudações.
Ainda é cedo para apontar culpados.
Foi descoberto o roubo de 6 mil caixas de documentos, que eram guardadas descuidadamente no depósito da Caarj, em um subúrbio do Rio.
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