quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Alckmin no tudo ou nada - por Gilberto Nascimento (Cartacapital)

A eleição para a prefeitura na maior cidade do País está indefinida, mas quem imagina chegar ao segundo turno já corre atrás de apoios. Desenha-se no momento uma aproximação entre petistas e tucanos pró-Alckmin na segunda etapa da disputa eleitoral, caso o ex-governador realmente fique fora.

Uma sinalização de possível acordo já foi dada: o advogado Mário Covas Neto, o Zuzinha, filho de Mário Covas (morto em 2001), e o ex-secretário de Segurança Pública no governo Covas Marco Vinício Petrelluzzi participaram de um jantar em homenagem à candidata do PT à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, no dia 12, na casa de Marcio Toledo, presidente do Jockey Club de São Paulo.

Amigo do vice na chapa petista, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), Toledo apostou em duas frentes. Como pessoa jurídica, organizou jantar na sede do Jockey, no dia 10, para Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB à prefeitura. Como pessoa física, fez o evento para Marta, dois dias depois, em sua casa. Estavam lá também integrantes do PMDB e do PV descontentes com o apoio de seus partidos à candidatura do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM). Outro sinal revelador das avançadas negociações de bastidores foi um jantar, há duas semanas, entre um parlamentar tucano aliado de primeira hora de Alckmin e o petista Valdemir Garreta, um dos coordenadores da campanha de Marta.

Em curva ascendente nas pesquisas, Kassab tende a ser o adversário de Marta no segundo turno. Pelos números do Datafolha, a petista lidera com 37% e Kassab e Alckmin seguem empatados em segundo lugar, com 22%. Considerado a “jóia da coroa” do DEM nas eleições municipais deste ano, Kassab melhorou sua imagem após o início do horário eleitoral gratuito na tevê. Aliados do democrata dizem que pesquisas internas – o chamado tracking, consultas feitas ao telefone –, indicariam para ele 7 pontos de vantagem sobre o candidato do PSDB.

No auge da campanha, a cena constrangedora de Alckmin em almoço solitário em um restaurante popular, no domingo 21, não é um mero acaso. Em uma carreata na semana passada, o tucano teve de empurrar o próprio carro. Hoje, boa parte do PSDB apóia Kassab, ex-vice de José Serra eleito numa coligação. Secretários tucanos continuaram na administração após a saída de Serra para disputar o governo do Estado e assumiram depois a campanha à reeleição do democrata, enquanto Alckmin insistiu em sua própria candidatura. O partido se dividiu.

No jantar para Alckmin no Jockey Club, Serra foi convidado para anunciar o apoio. Em longo discurso, citou apenas duas vezes o nome de Alckmin. E nem pediu voto. Serra não confia em Alckmin e o oposto também é verdadeiro, admitem tucanos. O governador não perdoa o colega de partido por ele não ter desistido da disputa interna para definir o candidato do PSDB à Presidência da República, em 2006. Sem a garantia de que seria o escolhido, Serra desistiu momentaneamente do velho sonho de alcançar o Palácio do Planalto e Alckmin concorreu com Lula.

Em meio ao tiroteio entre tucanos kassabistas e tucanos alckmistas, Serra divulgou nota, no sábado 20, em defesa do prefeito. Disse que ele é “leal e solidário” e “seguiu à risca” o plano de governo municipal. O debate entre Alckmin e Kassab havia esquentado dias antes. O candidato do PSDB chamou o democrata de “dissimulado” e disse que sua escolha como vice de Serra, na eleição para a prefeitura paulistana em 2002, foi resultado de “um golpe”.

A dura reação veio de outro tucano: Clóvis Carvalho, ex-ministro da Casa Civil e de Desenvolvimento do governo FHC e agora secretário de Governo do democrata. Carvalho disse que Alckmin “tem de ser cobrado pelo oportunismo e pela falta de compostura”. Trazido do Vale do Paraíba pelo candidato tucano para ajudá-lo no início de seu governo, o presidente do diretório municipal do PSDB de São Paulo, José Henrique Lobo, anunciou, na terça-feira 23, que entrará com pedido de expulsão de tucanos kassabistas, entre eles Carvalho e o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman.

Muito irritado, Alckmin havia cobrado do partido punições aos “traíras”, rótulo dado aos opositores internos. “O Dr. Clóvis Carvalho não tem condições de ditar regras ao PSDB, partido do qual se diz fundador, mas no qual nunca militou”, atacou Lobo. Em sabatina no jornal Folha de S.Paulo, na mesma terça 23, Alckmin tentou amenizar a ausência do governador em sua campanha. “A quem cabe fazer campanha é o candidato. O Serra foi à convenção do partido, declarou apoio, gravou para a televisão e foi ao nosso jantar. Não tenho nenhuma reclamação”, afirmou.

A realidade não é bem assim. Enquanto se descola de Alckmin, Serra ajuda candidatos do PSDB e do DEM em capitais e outras cidades paulistas. Em Florianópolis, o governador deu apoio ao candidato democrata à prefeitura, César Souza Júnior, e colocou o adesivo do DEM no peito. Perguntado se esse símbolo não o incomodava, respondeu: “O 25 (número do DEM) não é problema. É a solução”.

Na Grande São Paulo, Serra ajuda candidatos do PSDB e do DEM em disputas acirradas contra petistas. O governador discursou para 5 mil pessoas em Suzano, em comício a favor do democrata Estevão Galvão. Em Osasco, andou num calçadão ao lado do candidato a prefeito, o tucano Celso Giglio. Nas cidades de Diadema e São Bernardo do Campo, no ABC, fez caminhadas com os candidatos a prefeito José Augusto Ramos e Orlando Morando, ambos do PSDB, que disputam com os petistas Mário Reali e o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, respectivamente. Em São José dos Campos, levou apoio a Eduardo Cury (PSDB).

A decisão de Alckmin de associar Kassab com os ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta parece ter amenizado a derrocada do tucano. O ex-governador parou de cair nas pesquisas, ao menos até a quinta-feira 25. Mas há desânimo entre os alckmistas. Reservadamente, um influente parlamentar tucano considera quase impossível Alckmin superar Kassab na reta final.

Se ficar fora, o ex-governador pode cair no limbo. A avaliação nas hostes do PSDB é de que restará a Alckmin concorrer a uma vaga à Câmara dos Deputados. Segundo o parlamentar, o futuro dele depende de Serra. Se o governador achar que precisa de um PSDB forte em São Paulo para ajudá-lo a chegar a Brasília, poderia cogitar a hipótese de Alckmin disputar de novo o Palácio dos Bandeirantes. Mas poderia também optar por Alberto Goldman (vice-governador) ou Aloysio Nunes Ferreira (chefe da Casa Civil), nomes de sua inteira confiança.

Existe o pedido de punição aos kassabistas, mas a história costuma ser escrita pelos vencedores, lembra o mesmo observador. Em caso de derrota, então, fala-se até num possível desligamento de Alckmin do PSDB. Hoje, ele é sustentado pelos chamados políticos “históricos” não alinhados com Serra e, principalmente, pelo espólio do governador Mário Covas. Os covistas sempre defenderam Alckmin e bateram o pé em favor da candidatura própria em São Paulo. Mas também entre eles há insatisfação.

Ao assumir o governo do Estado, Alckmin foi orientado por marqueteiros a impor um estilo próprio e procurou se desvincular dos covistas. Afastou vários deles de postos importantes no governo. Recentemente, enquanto o mesmo grupo brigava pelo direito de ele ser candidato e montava uma chapa “puro-sangue” para o diretório municipal do PSDB, Alckmin fez um acordo com serristas, que até agora se mostra inútil, e os seguidores de Covas foram alijados. São manobras políticas que só complicam as chances do tucano.


Comentário: Ah, tenho de me declarar. Se eu votasse em São Paulo, iria de Soninha. Depois do debate promovido pela Record domingo último, em que ela sobrou, com mais convicção. Quanto ao segundo turno, é a Marta, mesmo.

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