Pane nos ares
Embora o dia 29 de setembro tenha entrado para o calendário das efemérides fúnebres no Brasil desde 2006, com a morte de 154 passageiros do vôo 1907 da Gol, vai se consolidando também, dois anos depois, o marco de um princípio oposto às regras democráticas, cujo enunciado é assim: a verdade é hierárquica.
É contra isso que se tem batido o advogado da Federação Brasileira das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo, Roberto Sobral, que, na quarta-feira 8, entregou ao presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto, um dossiê com denúncias que apontam a gravidade da situação no setor aéreo nacional. Na pilha de papéis há um relato minucioso das condições. Entre as denúncias destaca-se um documento recentemente agregado por Sobral que comprova, segundo ele diz, a insistência da Aeronáutica em sonegar informações.
“É coisa de causar espanto e terror”, escreve o advogado no dossiê à OAB. Na página 57, no item 27 do Relatório de Auditoria 20.840/2007-4, do Tribunal de Contas da União, uma “autoridade da Aeronáutica” diz o seguinte:
“Em reunião realizada no gabinete do relator, os gestores alegaram que não promovem essa alteração por temerem que isso possa ser usado na esfera judicial, uma vez que os controladores envolvidos no acidente do vôo Gol 1907 usaram, como linha de defesa no processo sob (sic) o caso, a tese de que essa funcionalidade teria sido uma das causas do acidente”.
A alteração referida no texto do TCU trata de correção de uma falha de gerenciamento do sistema X-4000.
Essa denúncia, se comprovada, deixará as autoridades da Aeronáutica expostas à acusação por prática de ato criminoso, pelo fato de adotarem providências “para não dar razão aos controladores que apontaram ali uma das falhas que conduziram à colisão do vôo Gol 1907”, como afirma Roberto Sobral.
Desde o acidente, a Aeronáutica insiste na tese de que não houve nenhuma falha de sistema que contribuísse para aquele acidente. O advogado contesta e garante que “há documentos oficiais conhecidos que revelam falha de visualização do radar, falha de equipamento de rádio, falha de sistema”. Mas, segundo ele, em lugar de revelar falhas, “o comando da Aeronáutica apontou e aponta para a responsabilização unilateral dos controladores no serviço daquela rota, naquele dia, fragilizando a lealdade que deve ter um comandante para com os seus subordinados”.
Assim, tudo está restrito a um processo criminal contra quatro sargentos especialistas. Em março de 2008, Sobral encaminhou ao Supremo Tribunal Federal uma ação contra o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito, por “crime de abandono de posto praticado por integrantes do alto-comando”, que, em 30 de março de 2006, teria ordenado a retirada de todo o oficialato da Força Aérea das salas de controle de tráfego aéreo do Brasil. Com isso, teriam deixado expostos a acidentes todos os vôos durante um tempo de quase quatro dias.
A esperança em Sobral não morre. A partir de uma conversa com o ministro Celso de Mello, ele passou a acreditar que o plenário do STF chegará a apreciar a ação, que, se aceita, provocaria o imediato afastamento do brigadeiro Saito.
“Os figurões da Aeronáutica controlam o espaço aéreo do Brasil como se fosse um quintal deles”, diz o advogado, que, certamente, expressa o sentimento dos controladores de vôo que estão sob o risco de se tornar os vilões da história. Roberto Sobral conhece as dificuldades da empreitada que aceitou, por se tratar do Brasil. Talvez por isso ele também tenha encaminhado um dossiê, com um manifesto dos controladores de vôo, à CNBB. Assim, ninguém poderá acusá-lo de qualquer omissão. Além de bater às portas da Justiça, Roberto Sobral também já foi reclamar com os bispos.
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Andante mosso
Trio maravilha
O livro A Era da Turbulência, de Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, o banco central dos EUA, apontado como o grande vilão da crise financeira, deve ir, em breve, para a queima de estoque.
A obra faz fartos elogios ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil.
O prefácio da edição brasileira tem a chancela do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.
Os três são da tropa de elite da globalização nos trópicos.
Ferro em brasa
A CSN puxou o freio de mão na venda da Namisa, que produz 10 milhões de toneladas de minério de ferro por ano.
O banco Goldman Sachs, contratado para vender até 50% da companhia, encontrou enormes barreiras para levar o negócio adiante.
E a culpa não é da crise financeira. Atônitos, os advogados tentam desatar o nó górdio do negócio, disputado por companhias chinesas.
Rombo no casco
O economista J. Carlos de Assis botou um ponto final no livro A Crise da Globalização.
É um mergulho nas incertezas da economia com o objetivo de lançar luzes sobre a gênese delas. Para ele, há uma mudança de paradigma “mais profunda do que ocorreu em 1929”, pois ela não afeta apenas a forma de acumulação do capital, com a volta à preeminência do valor do trabalho, como “está condicionada pela expansão planetária da democracia”.
Esse rombo no casco do capitalismo, ele alerta, não permite fazer como no Titanic, quando só havia botes salva-vidas para a primeira classe.
Urnas capitais (1)
• O espelho da disputa acirrada entre PT e PMDB está na composição da Câmara de Salvador, onde cada um fez 6 vereadores.
• PT, PMDB e PSDB não elegeram nenhum vereador em Maceió.
• O DEM, de Cesar Maia, fez o maior número de vereadores no Rio, embora tenha baixado de 11 para 8, entre 2004 e 2008.
• Mesmo sem ter cabeça-de-chapa, o PT mostrou força em Belo Horizonte. Elegeu 6 vereadores que formarão a maior bancada da Câmara Municipal.
Urnas capitais (2)
O PT teve um excepcional desempenho nas 26 capitais, onde fez o maior número de vereadores no universo de 715 cadeiras em disputa.
• Os petistas elegeram 79, seguidos do PMDB, com 76, e do PSDB, com 73.
• A quarta força política que emerge das câmaras municipais nas capitais do País é o PSB, com 47 vereadores, seguido pelo DEM, com 46, e pelo PP, com 40.
• Somente o PSDB e o PMDB têm chances claras de controlar a maioria nas câmaras das capitais: a votação de Beto Richa, em Curitiba, elegeu 13 de 38 vereadores; e a força eleitoral de Iris Resende, em Goiânia, fez 11 de 35 possíveis.
Vozes da aldeia
O povo indígena comemora a derrota do grileiro de terras Paulo César Quartieiro, que disputou a eleição em Pacaraima (RR).
Mesmo o pajé, geralmente moderado, radicalizou e invocou as forças do mal contra Quartieiro: “Que Kanaimã o leve!”
Altemir Campos (PSDB), o prefeito eleito, mantém boas relações com os índios Makuxi.
É a lei, idiota
O piloto brasileiro Hélio Castroneves, ás da Fórmula Indy, acusado de sonegação fiscal e evasão de divisas, compareceu, no dia 4, para audiência na Corte Federal de Miami.
Estava algemado e com os pés acorrentados.
O presidente da Suprema Corte, John Roberts, não disse que a polícia exorbitou, nem que “espetacularizou” a prisão.
Apoio discreto
Gabeira quer Serra longe do palanque dele, no segundo turno.
A adesão ostensiva tornaria a disputa entre o peemedebista Eduardo Paes, apoiado por Sérgio Cabral, e o verde Fernando Gabeira, apoiado por José Serra, uma competição entre cariocas e paulistas.
Jogada no Maracanã.
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