“O juiz Fausto De Sanctis vem sofrendo uma pressão enorme, desumana”, segundo o juiz Nilo Toldo, da AJUFE, Associação do Juízes Federais, no debate promovido pelo Grupo Democracia e Cidadania, no último dia 24, em Campinas. Cerca de 70 pessoas – professores da Unicamp, da Pucamp e da Facamp, juízes, procuradores, advogados, estudantes - estiveram presentes no auditório da Livraria Cultura, participando do seminário “A velocidade seletiva da Justiça, o caso Daniel Dantas”.
Nilo Toldo, foi contundente na defesa do juiz De Sanctis: “Estão desqualificando os investigadores para desviar o foco. É uma manobra conhecida. Vamos defender De Sanctis, ele está sendo pressionado porque pôs o dedo na ferida!”.
Sábias palavras. No dia seguinte, De Sanctis foi obrigado a depor no Tribunal Regional Federal (TRE), em São Paulo, intimado pela Corregedoria. Ficou mais de três horas dando explicações para a Polícia Federal a respeito do propalado grampo que teria flagrado a conversa entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres. O próprio Gilmar, presidente do STF, fez a representação contra De Sanctis, exigindo explicações sobre a Operação Satiagraha.
“É constrangedor”, disse De Sanctis à imprensa, ao chegar para prestar seu depoimento. Não sem razão. Depois das quedas do delegado Protógenes Queiróz e do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda, o juiz é a bola da vez. Está pagando o preço pela ousadia de mandar prender Daniel Dantas, liberado duas vezes pelo presidente do STF. “Gilmar Mendes usou o que chamamos de “habeas-corpus canguru”, aquele que pula rapidamente todas as instâncias”, disse a procuradora Janice Ascari, outra das debatedoras do fórum.“Quando alguém no Brasil é flagrado negociando propina de um milhão de dólares é “armação”. Só aqui. Lá fora, é investigação”, acrescentou a procuradora, lembrando o episódio que colocava Humberto Braz, braço-direito de Dantas, na cena do crime.
“Quando De Sanctis ia atrás de traficante famoso ou de banqueiro falido, era incensado pela mídia. Agora, quando mexe com os chamados “intestinos do poder”, a coisa pega”, falou Sérgio Lírio, redator-chefe da CartaCapital, o terceiro debatedor.
Para ele, “o problema não é a morosidade da justiça. É muito mais que isso”. Falando do caso Dantas, Sérgio lembrou que nenhuma ação judicial – e já foram muitas - envolvendo o Opportunity teve final. Todos pararam em algum lugar. Fazendo uma retrospectiva do caso, destacou que “nunca um empresário teve tanta capilaridade nas suas relações com o poder, passando já por diferentes governos”.
Wálter Maeirovitch, ex-secretário nacional anti-drogas e colunista da CartaCapital, também presente à mesa, situando o caso, discorreu sobre o que chama de “a criminalidade dos potentes”, que seria uma associação internacional em rede, sem obedecer fronteiras, que usa métodos mafiosos, tem uma atuação parasitária no aparelho de Estado e tem a corrupção como sistema permanente. Tudo a ver com o caso Dantas.
Respondendo ao tema do debate – “a velocidade seletiva da Justiça” – Maierovitch disse, para divertir a platéia, que no Brasil “enquanto a criminalidade organizada tem a velocidade da luz, a da punição tem a velocidade de uma lesma”. E acrescentou depois: “E reumática”.
Certo que a ciência ainda não descobriu se o molusco gastrópode pode contrair reumatismo, mas que a imagem é boa, não resta dúvidas.
O debate vai gerar um documento que será tornado público pelos organizadores e que disponibilizaremos pelo site da CartaCapital. Outra boa notícia, é que o próximo debate, em outubro, já tem tema definido. Discutirá a situação do ensino público, com este sugestivo título:
“Fala sério: o encino brazileiro ainda tem geito?”.
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