O estrabismo político histórico do PT carioca deixou o campo das esquerdas sem opção clara no segundo turno. Ao invés de apoiar Jandira Feghali, o que daria à candidata comunista musculatura partidária e tempo suficiente na TV para enfrentar o embate, a seção carioca do partido insistiu com a anêmica candidatura de Alessandro Molon, que morreu sem nem chegar à praia com menos do que 5% dos votos.
E como se não tivessem feito uma baita barbeiragem política, os petistas cariocas já estão todos risonhos nas fotos dos jornais aderindo ao new peemedebista Eduardo Paes.
Como o PT de São Paulo pretende comparar a biografia política de Marta com a de Kassab, vou fazer o mesmo com a de Gabeira e Eduardo Paes para explicar porque prefiro um ao outro. Mas antes, um detalhe, a de Eduardo Paes talvez seja pior do que a de Kassab.
Paes, para quem não se lembra, fazia dupla com Acminho Neto na CPI dos Correios. Era da turma jovem dos urubus do impeachment e vivia à procura de uma câmera de TV para acusar Lula de chefe da quadrilha do mensalão. Mas alguém pode dizer, mas o Gabeira fez diferente? Honestamente, o vi fazendo muita demagogia política e tabelando com gente do calibre de ACM, mas não me recordo de ataques pessoais seus. Ademais, certo ou errado Gabeira ainda mantém boa parte das suas opiniões a respeito daquele episódio. Ele não está rebolando para se justificar ou para pedir o apoio de Lula.
Mas Eduardo Paes não é só um dos urubuzinhos do impeachment. Ele nasceu para a política pelas mãos de César Maia, para o qual hoje faz aquele biquinho do tipo eu nem te conheço. Em 1992, Maia fez do então estudante de advocacia (ele tinha 23 anos) o subprefeito da Barra e de Jacarepaguá. Depois de quatro anos à frente do pelotão do prefeito maluquinho (era a época em que César Maia pedia picolé no açougue, lembram?), o moço saiu candidato a vereador e foi eleito. Em 1996, virou deputado federal e foi mudando de partido conforme o vento do conservadorismo carioca mudava. Hoje está no PMDB do governador Sérgio Cabral. Mas quando era urubu do impeachment pulava no galho tucano. Na época de Maia, foi do PFL e do PTB.
E Gabeira. Bem, Gabeira também não é um poço de coerência política. E hoje nem de longe lembra o político do final dos 80 e começo dos 90, que com seu discurso moderno empolgava a galera que sonhava com um novo jeito de fazer política. O verde que Gabeira hoje tenta representar está mais para a pasmaceira tucana do que para algo de fato inovador. De qualquer maneira, ele sempre esteve mais para cá do que para lá. Teve apenas dois partidos desde que voltou do exílio: PV e PT. E como deputado colocou seu mandato à disposição das lutas ambientais e das minorias. Falar isso hoje parece pouco. Mas lembro-me de que a mesma mídia que faz olas a Gabeira hoje, antes o achava exótico porque seu mandato estava sempre pautando a diversidade. Parecia coisa de doidão, algo engraçado.
Aliás, gostava muito mais do Gabeira antes, quando ele era tratado como um doidão, do que hoje, quando passou a ser o queridinho dos coleguinhas da imprensa comercial.
De qualquer maneira, Gabeira tem história política. E não estou tratando aqui da sua luta conta a ditadura militar. Falo da redemocratização para cá.
Desde que voltou do exílio ele apontou temas que interessam aos libertários. Gabeira falou da descriminalização das drogas, do direito das prostitutas, de meio ambiente, da discriminação vivida pelos homossexuais, da luta pela preservação da Amazônia etc. Posso até discordar das posições dele em alguns desses temas, mas ele os debate. Outros saem de ladinho quando o assunto é polêmico. Como faz Eduardo Paes.
E tem mais um motivo que me leva a ser Gabeira no Rio. Sérgio Cabral, que ainda não disse a que veio, ficará muito poderoso se vier a eleger Paes. O que também acontecerá com Serra por aqui, se eleger Kassab. Não gosto de nenhum dos dois com poder demais.
Confesso que já achei que Sérgio Cabral pudesse fazer um governo mais humano e inclusivo no Rio de Janeiro. Mas tudo o que leio na imprensa e o que ouço dos meus colegas cariocas vai em outra direção. Ele faz um governo policialesco e utilizando a mesma burocracia do chaguismo. Acho importante que ele tenha nas suas barbas um prefeito independente, que dê uns berros de vez em quando, que o conteste. E isso, podem ter certeza, Gabeira será e fará.
Gabeira pode até nos incomodar pelos seus vai-vens, pela sua dificuldade em trabalhar em projetos coletivos. Mas não é um oportunista ou menininho de recados de quem quer que seja. Gabeira é Gabeira, com seus erros e acertos. Por isso, se meu domicílio eleitoral fosse no Rio, votaria com tranqüilidade nele.
E ainda há a chance de a prefeitura vir a lhe fazer bem. E Gabeira voltar a ser aquele que um dia já fez muito de nós, inclusive este que escreve, a sonhar em vê-lo não só como prefeito, mas até em cargos mais importantes.
Comentário: reafirmo que se votasse no Rio de Janeiro, anularia meu voto com toda convicção. Os concorrentes me levam a tanto.
Tenho mais a falar sobre Eduardo Paes do que o Rovai falou, mas deixa pra lá, são coisas ditas em conversas informais, a respeito de "negociações" com ele, é melhor nao ser explicitado aqui.
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