sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Conversa com Paulo Lacerda - por Mino Carta
Contarei um episódio sugestivo. Certo dia de 2005, fui visitar em Brasília o então diretor da Polícia Federal, Paulo Lacerda. Iam comigo meu velho companheiro Luiz Gonzaga Belluzzo e meu braço direito na feitura de CartaCapital, Sergio Lirio. Foram variados os assuntos da conversa e lá pelas tantas chegou a vez de Daniel Dantas, o banqueiro orelhudo. Já se dera há bastante tempo a Operação Chacal da PF, que recolheu nos próprios escritórios de DD o hard-disk do banco. Estávamos interessados em conhecer o paradeiro do disco, ou dos discos (não sabíamos se de um se tratava, ou de alguns). Lacerda disse que o Supremo Tribunal Federal estava em poder do butim, mas que a PF tinha uma cópia. Era aquele tempo singular em que a ministra Ellen Gracie recusava-se a permitir a abertura dos discos pelas razões mais estranhas, ou, pelo menos, assim nos pareciam. Desde quando Dantas confessou com comovedora candura ter “facilidades” no STF, a gente mergulha na conclusão de que não cabia estranheza. Aí perguntei a Lacerda se porventura sofrera algum tipo de pressão a favor do orelhudo por parte de autoridades de calibres diversos. Anuiu. Sim, recebera. Parlamentares? Também, respondeu. E ministros? Um deles, disse, tranqüilo. Acrescentou: “Não é o meu”. Referia-se ao ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos. Arrisquei: “O chefe da Casa Civil, José Dirceu”. Anuiu novamente, sem pestanejar.
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