Continuamos no Brasil, Pilar e eu, e comovidos pela tragédia de Santa Catarina, onde o número de mortos ou desaparecidos não deixa de aumentar, como as histórias humanas, de desolação e desesperança dos sobreviventes, que dali nos chegam. Cruzámo-nos com o presidente Lula, que ia visitar a zona da tragédia. Muito consolo tem que transportar para demonstrar que o Estado é útil. Consolo em palavras e em meios. Das duas coisas necessitamos, os humanos. Contam-nos que nas empresas, espontaneamente, se estão recolhendo fundos para ajudar os vitimados. Para quem, como nós, não vivemos directamente a tragédia, gestos como estes também nos consolam, nos fazem pensar que a jovem da editorial que se preocupa com a sorte de gente que não conhece é uma imagem possível do mundo.
Esta tarde, na Academia Brasileira de Letras apresentei A Viagem do Elefante. Alberto da Costa e Silva disse na sua intervenção que todos somos bibliotecas, porque guardamos leituras no nosso interior como o melhor de nós mesmos. Tenho com Alberto uma antiga relação de amizade, e por ela, este académico, ex-presidente da Academia e ex-embaixador quis apresentar o meu livro como algo próprio. Antes tivemos uma reunião com os académicos, à qual assistiram amigos tão generosos como Cleonice Berardineli e Teresa Cristina Cerdeira da Silva, que não são académicas embora façam parte da aristocracia do espírito, essa que sim é necessária para a evolução da sociedade. Antes estivemos com Chico Buarque, que está a ponto de terminar um novo livro. Se for como Budapeste teremos obra. Chico, o cantor, o músico, o escritor, é um dos homens cabais que unem a qualidade do seu trabalho à sua condição de boa gente. Hoje o dia foi cumprido. Sem dúvida.
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