Que o advogado Nélio Machado é um craque, essa caso Satiagraha confirma. Mais ainda a maneira como se valeu das relações firmadas por Daniel Dantas com publicações e jornalistas. É um verdadeiro plantador de argumentos.
Ouça o defesa oral dele, na sessão do STF, e confira as colunas de Diogo Mainardi e de outros jornalistas ligados a Dantas – que menciono no capítulo “O Lobista de Dantas”, na série “O Caso de Veja”.
1. Nélio menciona a publicação de informações sigilosas na Folha como prova de que os delegados vazavam informações para a imprensa. Não duvido que vazassem. Mas, no caso da reportagem da Folha (que ajudou Nélio a solicitar um habeas corpus), o Delegado Protógenes pediu a prisão da jornalista pelo vazamento. Teria feito isso se o vazamento tivesse partido de algum integrante da Satiagraha? É evidente que esse vazamento não partiu da equipe do Satiagraha. Nélio é um craque ou não é?
2. Menciona meu blog como tendo antecipado informações sigilosas do processo. Ora, jamais dei uma informação exclusiva que fosse sobre o processo, mesmo porque não conheço e nunca procurei me aproximar da Polícia Federal ou dos procuradores do caso. Conversei uma vez com uma procuradora de outro inquérito. Os dados que publiquei vieram de um arquivo que baixei do site Consultor Jurídico, ligado a Gilmar Mendes e a Nélio, não a De Sanctis ou a Protógenes.
3. Passa pela tese da perseguição política e das disputas empresariais que supostamente estariam por trás das críticas a Dantas. Essa tese foi cansativamente defendida pelo jornalista-sela Diogo Mainardi. E foi desmoralizada pelos fatos. Mesmo depois de resolvidos os pepinos entre Dantas e os fundos, entre Dantas e a Telemar, as críticas prosseguiram. Se estavam a serviço de interesses empresariais, cessados os conflitos, teriam que parar. Não pararam. Mas a tese prosseguiu como se ninguém tivesse reparado nisso.
4. Menciona a questão da contaminação do inquérito por provas ilegais. Antecipei essa futura estratégia da defesa na minha série sobre a Veja, destacando o papel do Mainardi nesse jogo, com a tentativa de trazer o inquérito italiano para o processo, contaminando-o. Mainardi chegou ao cúmulo de pegar o relatório que dizia ter recebido da Itália e encaminhar pessoalmente ao Ministério Público. Quando estourou a Satiagraha, Nélio bateu claramente nessa tecla – da contaminação – deixando o pobre Mainardi em pânico. Fez a mesma coisa afirmando que a inclusão do Inquérito Italiano era essencial para a defesa, obrigando Mainardi a sair correndo para Nova York, anunciar sua intenção de se mudar do Brasil e ficar acenando, por três semanas seguidas, sua condição de pai extremoso. Está certo que Nélio conquistou esse direito de explorar os temas plantados. Mas, espero que, com a situação mais calma para seu lado, deixe de tratar o parajornalista com requintes de crueldade.
5. Menciona os “jornalistas de aluguel”. Desde o começo dessa pantomima, uma das estratégias mais adotadas pelo profissionais da Veja era atribuir aos adversários suspeitas que pairavam sobre eles próprios. Criava-se uma balbúrdia infernal e os desavisados achavam que, porque as acusações eram idênticas, as práticas também seriam idênticas. Como dizia o Raul Jungman, para justificar seu lobby pró-Dantas: não tem santo nessa história. Então, que vendamos a alma ao diabo. Uma tática esperta, admito, mas muito mais típica de raposas de tribunal do que de parajornalistas e jornalistas inexperientes.
Reafirmo: Nélio é um craque na preparação minuciosa da defesa.
Comentário
Para quem não entendeu: é evidente que estou ironizando. Ao expor as alianças de Dantas na mídia da forma como o fez, Nélio escancarou a hipocrisia de seus próprios aliados. Graças à falta de sutileza dele, à falta de limites de Gilmar Mendes, à falta de de talento dos "aloprados" da Veja, mostrou-se de forma inédita o jogo de hipocrisia montado em torno desse episódio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário