sábado, 29 de novembro de 2008

O caso Márcia Cunha - 2 por Luis Nassif

Matéria de Fausto Macedo, no Estadão, relatando a tentativa de suborno da juíza Márcia Cunha, a primeira a proferir sentença contra o Opportunity, na batalha pelo controle da Brasil Telecom (clique aqui).

Ao retornar de viagem a Nova York “começou o inferno”. Uma das empresas de Dantas ajuizou exceção de suspeição contra ela, ofensiva rejeitada pela 8ª Câmara Cível. A juíza assinala que o grupo de Dantas a fustigou com representações e reclamações sucessivas. Apresentaram quatro laudos periciais “que indicavam que a antecipação de tutela não era de sua autoria intelectual”. Ela contratou um perito. Ele atestou que a decisão foi elaborada “a partir do lap top da depoente”.
Um dossiê apócrifo começou a ser espalhado no Rio, atribuindo-lhe a compra de um apartamento de luxo em Ipanema. Estranhos rondavam o edifício onde reside. Um homem fez imagens do prédio. O Tribunal de Justiça providenciou segurança pessoal para Marcia. A escolta foi retirada durante um “período de calmaria”. Quando o misterioso motociclista a abordou em Santa Teresa, ela caminhava só pelo bairro. Fez ocorrência na 14ª Delegacia. Afirmou que “as ameaças começaram após ter prolatado a decisão contra o Opportunity, do qual Daniel Dantas é o controlador”.
O banqueiro negou. O inquérito policial foi relatado e remetido ao Ministério Público, que pediu o arquivamento do caso. Com o peso de “mais uma dezena de suspeições” contra si, a juíza, afinal, capitulou. Ela avaliou que “não tinha mais condições psicológicas de prosseguir no caso, devido às ameaças que havia sofrido”.
Quando se afastou, já respondia a um processo por calúnia, dois inquéritos, um civil e um penal, ação por improbidade e processo no Órgão Especial do TJ - arquivado por 16 votos a 4 -, além das exceções de suspeição. “Após reconhecer minha suspeição acabaram-se todas as torturas psicológicas”, declarou ela à Polícia Federal.


O procedimento é o mesmo adotado contra outros adversários de Dantas, valendo-se de veículos da mídia: ataques difamadores, fabricação de dossiês, enxurrada de ações judiciais, uso intensivo da imprensa, sem direito a resposta do atacado.
Há um boxe com o advogado de Dantas, Nélio Machado, advogado barra-pesada que, através de jornalistas cooptados, transformou o assassinato de reputações em estilo recorrente e impune.
Declaração sua ao jornal:
Sobre a suposta proposta de suborno ao marido da juíza, Sérgio Antônio de Carvalho, Machado afirma desconhecer Eduardo Rascoviski, que teria atuado a mando do Opportunity para contratá-lo, e acredita que a acusação “também entra no contexto da narrativa fantasiosa”.
Da agenda de Humberto Braz, executivo da Brasil Telecom, homem que controlava os contratos de publicidade da BrT e da Telemig Celular, contratava assessorias de imprensa e mantinha contato com jornalistas, e um dos responsáveis pela tentativa de suborno do delegado da PF (pagava US$ 1 mi para tirar parentes de Dantas do processo e incluir adversários):

38- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "30/03/2004 13:00:00 GMT"
41- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "31/03/2004 20:30:00 GMT"
43- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "14/04/2004 14:00:00 GMT"
113- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "05/07/2004"
125- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "09/07/2004"
137- Compromisso: "Eduardo Rascovsky" , Data Original: "21/07/2004"
A agenda de Humberto Braz na BrT vai até outubro de 2004.
Aqui, um apanhado de matérias sobre o assassinato moral da juíza.
Aqui, o capítulo “As Relações Incestuosas na Mídia” em que trato do episódio em questão.

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