quarta-feira, 26 de junho de 2013

O que o MPL está dizendo ao PT - por Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

A baixa velocidade das reformas sociais, por conta de alianças com conservadores, levou o partido a pressões inéditas.

Nunca na história do PT, para usar uma expressão cara a Lula, o partido enfrentou uma pressão social tão genuína, tão intensa e tão espontânea.

O PT se acostumou à vida mansa proporcionada por sindicatos e associações estudantis domesticadas.

A folga acabou. Se não é bom para o PT, para o Brasil é.

Sem indignação, sem mobilização, sem protesto você não consegue nada. Teríamos que nos conformar com a baixa velocidade do PT nas reformas sociais que mitiguem a vergonhosa desigualdade entre os brasileiros.

A cada lista internacional de desenvolvimento social, lá está o Brasil em colocações medíocres, abaixo mesmo dos vizinhos latino-americanos.

O PT acabou se abarrotando de alianças com setores que combatem pelo atraso social – como os ruralistas, por exemplo.

Tinha que irromper protesto no Brasil, e tinha que ser de movimentos sem compromisso com o PT.

Não estamos falando da fajutice retrógrada de pseudomovimentos como o Cansei e coisas do gênero.

Falamos de coisas reais, como o Movimento Passe Livre, o já conhecido MPL. A insatisfação de seus integrantes vai muito além, naturalmente, das tarifas de ônibus, embora se expressem por elas.

Não é um grupo antipetista, embora os petistas gostem de dizer que é. Eles já estavam fazendo os mesmos protestos contra Kassab. Apenas a mídia ignorou.

A mídia está dando destaque agora porque, presumivelmente, acha que pode fixar nos paulistanos a ideia de que Haddad não consegue gerir a cidade.

Essa percepção, eventualmente, pode ajudar o PSDB mais para a frente, nas eleições para governador, em 2014.

A Juventude do PT, que declarou apoio às reivindicações do MPL, já estava lado a lado com seus líderes nos protestos contra Kassab.

É positivo tirar o PT da zona de conforto social. Há que cobrar mais, exigir mais realizações. Dez anos no poder não são cem anos, é certo, mas também não são dez semanas ou dez meses.

Não dá para os brasileiros aturarem a mesma ladainha de sempre: a de que o PT herdou uma situação horrorosa e não teve tempo ainda de fazer o serviço.

Em outra fronte também aparece uma pressão que só pode merecer aplausos: a dos índios.

Indigenistas apontam um fato incrível: a falta de diferença entre o tratamento dispensado aos índios na ditadura militar e o que o governo Dilma dá a eles hoje.

Dilma, há poucos dias, disse que não perdia um Sai de Baixo. Ora, se ela tem tempo para ver esse lixo televisivo deveria abrir uma brecha na agenda para receber os índios.

Até agora, ela não falou pessoalmente com os indígenas. Mas está constantemente com os ruralistas.

Desde Collor, nenhum presidente demarcou tão poucas terras para os índios quanto Dilma.

Não basta ao PT ter discurso social. Há que ter ação.

Tremo quando ouço Lula dizer que nunca os banqueiros ganharam tanto como ganharam sob ele. Está errado. Eles tinham que ter ganhando menos, para que sobrassem mais recursos para os milhões de miseráveis brasileiros.

O que Lula pensa que é uma virtude é, na verdade, um defeito: ele mexeu bem menos do que deveria nos privilégios do chamado 1%.

Tinha que dar no que deu: a voz rouca das ruas, seja branca ou vermelha, negra ou amarela, parda ou o que for, tem um limite de paciência.

E ele se esgotou.

Se o PT não quer se tornar amanhã o que o PSDB é hoje, um partido desconectado do que acontece na sociedade, tem que se mexer.

Tem que acelerar, e muito, o pedal das reformas.

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