Não serão necessários muitos historiadores ou cientistas políticos para interpretar a imagem do governo de Dilma Rousseff refletida na última pesquisa do Instituto Datafolha. Queda de oito pontos.
Ela está à esquerda de Lula, que estava à esquerda de Fernando Henrique Cardoso, que esteve à esquerda de José Sarney, que mesmo contra a vontade não poderia deixar de estar à esquerda dos 21 anos de governo militar, que derrubou João Goulart, porque este caminhava para a esquerda.
Simples assim. Um acordo secular de elites, reproduzido desde nossa herança colonial, com poder incalculável sobre a política e a economia brasileiras e com resultados deletérios para o desenvolvimento social do País.
Para ilustrar, recomendo abaixo “Flor da Idade – Quadrilha”, canção de Chico Buarque. E para entender, “João Goulart – Uma biografia”, livro de Jorge Ferreira (Civilização Brasileira, 2011).
Para ser eleito, Lula precisou que José Dirceu o lembrasse de escrever uma “Carta aos Brasileiros”, onde jurava não repetir nenhum dos pecados ideológicos que o PT cometera desde a sua fundação, em 1989. Colou e foi eleito. Manteve flexível a cintura e foi reeleito. Fez a sucessão, apesar de feroz campanha de mídia baseada sobre frágil oposição, distante anos-luz das conquistas econômicas e sociais de seus oito anos de governo.
Dilma em cena: outra fôrma para a mesma massa de bolo.
Amplia-se a austeridade, fecham-se as pernas para o fisiologismo partidário, diminui-se a interlocução com os movimentos sociais, dá-se um pau na farra dos juros estratosféricos, fecham-se os ouvidos para as queixas empresariais, e o Banco Central ensaia levada menos ortodoxa, onde o samba de uma nota só do controle inflacionário poderia, pelo menos, sostenizar.
De prima, funcionou. Popularidade e aprovação nos píncaros da glória. Achou que chegaria aonde? Não haveria reação? Forças seculares não reorganizariam seus alvos?
Bastaram ao governo alguns escorregões na política fiscal, a dificuldade em manter o crescimento econômico e explícita fragilidade na composição do ministério, para que, na ausência de grandes escândalos a explorar, pois o mensalão foi e será passado, as folhas e telas cotidianas encontrassem o que procuravam.
Às menções frequentes sobre o pibinho seguiram-se os olhares assombrados de William e Patrícia para os preços dos tomates. Os economistas-chefes das instituições financeiras, galera de mortos-vivos, repicaram os sinos dos juros e da memória inflacionária para ajudarem quem regiamente lhes paga. Até o senhor Mailson “Hiperinflação” da Nóbrega, foi instado a opinar no Jornal Nacional.
Como nada acontece aqui sem interesse da Quarta Frota, The Economist e Financial Times começaram a perguntar: cacete, onde as velhas e boas taxas de juros que permitiam arbitragem e altos lucros para investimento de nossos nativos? Quem está pensando que é aquele genovês careca no ministério da Fazenda?
Motivos suficientes para a agência Standard & Poors ameaçar: vejam bem o que aconteceu com o Palmeiras.
O Brasil recuperar a credibilidade para investimentos que venham lá de fora não será difícil. O custo oportunidade aqui ainda é rico e generoso.
Difícil será a elite econômica confiar numa presidente avessa a pactos políticos, centralizadora, intervencionista e com um passado explícito de esquerda.
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