Francamente, gastar 10 reais e a manhã de sábado lendo a biografia de José Dirceu escrita pela Veja, nem eu mereço.
Esperei até agora para ver se algum herói se aventurava a comentar – disse herói, não Reinaldo Azevedo ou Augusto Nunes, que se esmeram em agradar as “matérias da casa” contra o Governo.
Olhei só a capa e as páginas de abertura da matéria. Nojentas.
A capa está aí e dispensa comentários.
A abertura tem uma montagem das fotos de Dirceu, dos 10 aos 60 e poucos anos que deve ter hoje. As mudanças faciais seriam óbvias, mas a exposição ainda fica mais conspiratória quando se recorda que ele teve de mudar o rosto, com uma plástica para voltar, clandestinamente, ao seu país, do qual havia sido banido pela ditadura e seria morto se encontrado.
Agora, o simpático Esmael de Moraes, do Paraná, faz o sacrifício.
Seus comentários, acrescidos dos meus:
1 – A capa é igual daqueles jornais sensacionalistas, dos que um programa de rádio antigo dizia que, torcidos, saíam sangue: “Uma biografia não autorizada conta a transformação do jovem militante em um exímio manipulador político, homem de negócios e condenado que SEQUESTROU – TEVE MÚLTIPLAS IDENTIDADES – CHANTAGEOU LULA.”;
2 - A maior “bomba”: a informação de que, quando era casado com Clara Becker, no interior do Paraná, tinha uma namorada em São Paulo. Puxa! Que coisa! Ainda se fosse em Paris, com um filho escondido por quase 20 anos, vá lá;
3 - Depois, Esmael descreve a suposta chantagem: “o livro conta que Dirceu obteve a presidência do PT depois de uma conversa tensa – e sem testemunhas – com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dirceu teria ameaçado abandonar o PT e revelar esquemas de caixa dois do PT com empreiteiras, caso Lula não o apoiasse” . E pergunta, se a conversa foi sem testemunhas, quem a contou: Dirceu ou Lula? Ou seriam câmeras clandestinas daqueles moldes de que se serviu a revista para espionar o hotel onde Dirceu se hospedava? Não sei como o Obama não contrata a redação de Veja no lugar do FBI, não ia passar por todo este desgaste com os grampos telefônicos do FBI. Será porque teria de levar junto o Policarpo e o Cachoeira?
4 - Mas aí é que vem o ponto: descaradamente, a revista pede – com o jeitinho com que Veja sabe pedir – que os novos ministros do STF – Teori Zavascki e Luiz Roberto Barroso não livrem os réus (do “mensalão”) da cadeia. Pressão “na veia”.
É verdade que Otávio Cabral tem um texto melhor que o do seu antecessor Merval Pereira na “pressão literária” sobre o STF para não exercer sua soberania no julgamento dos recursos. E que teve mais trabalho do que copiar e colar as colunas de jornal com que Merval conquistou um tamborete na Academia Brasileira de Letras.
Quem sabe vai pra lá também, com aquele fardão engalanado, fazer companhia a Merval?
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