Não haverá mais política como conhecemos até agora. Daqui para a frente ela irá em direção aos extremos.
Uma sociedade, quando passa por mobilizações populares como as que vimos nas últimas semanas, fica para sempre marcada.
Nesse sentido, devemos nos preparar para um embate de outra natureza. Quando a política popular ganha as ruas em uma reação em cadeia, todo o espectro de demandas sobe à cena.
Uma contradição de exigências que pode dar a impressão de estarmos em um buraco negro da política. No entanto, não há que temê-la, pois tal contradição é a primeira manifestação de um novo conflito de ideias que servirá de eixo de combate.
Por isso, a política brasileira não se dará mais no interior de partidos que há muito perderam sua função de caixa de ressonância dos embates sociais. Ela será decidida nas ruas.
Foi assim em países como Tunísia e Egito. As manifestações foram engendradas por estudantes esquerdistas e sindicatos com demandas parecidas com as nossas: democracia direta, reconstrução de serviços públicos gratuitos e de qualidade, Estado de bem-estar social, luta contra corrupção e corruptores.
No entanto, rapidamente o descontentamento mobilizou também salafistas e setores muçulmanos nacionalista-conservadores.
De fato, há uma luta em torno do rumo da maior mobilização popular recente do país. Por exemplo, setores conservadores da imprensa nacional, amigos até a hora da morte do imaculado são Demóstenes Torres, tentam impor sua velha pauta de sempre, a saber, indignação seletiva contra corruptos, mas silêncio tumular contra os corruptores (empreiteiras, bancos e empresários).
Mas que os que lutaram durante todos esses anos por universidades mais democráticas, mais impostos para os ricos e mais serviços sociais para os pobres, direitos iguais aos homossexuais e causas ecológicas radicais recolham suas bandeiras, eis algo que a história nunca perdoará.
Agora é hora de compreender que o verdadeiro embate começou e será longo.
Um dia teríamos que nos confrontar duramente com aqueles que têm o despudor de se chamarem “nacionalistas” em uma época em que “nação” só significa fronteira, limite, expulsão da diferença e defesa dos bons valores preconceituosos da “nossa terra”.
Não temos problemas em nos declararmos sem nação, sem pátria, sem identidade, porque nos apegamos a um desejo de igualdade que desconhece fronteiras.
Mas, e isso eles verão, nosso desejo é mais forte. Agora não é hora de medo. Agora é hora de luta.
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