O lançamento da candidatura de Fernando Gabeira a prefeito do Rio de Janeiro, de acordo com o jornal O Globo idéia de alguns militantes de esquerda do PSDB - pausa para gargalhar... - me fez lembrar de um episódio que só agora passou a fazer sentido.
Foi em 2006, durante a cobertura das eleições. Como repórter da TV Globo, fui encarregado de falar sobre o destino eleitoral dos candidatos a deputado que haviam sido acusados de envolvimento em escândalos nos meses anteriores. A reportagem também deveria registrar os campeões de voto. Não havia muito o que inventar. Era uma lista dos que haviam sido eleitos apesar de sofrerem acusações.
Registrei que Paulo Maluf tinha sido o candidato mais votado a deputado federal. E que, apesar de acusado de violar o sigilo do caseiro Francenildo, o ex-ministro Antonio Palocci tinha sido eleito. Era um registro, puro e simples, que incluía uma entrevista com o deputado reeleito João Paulo Cunha.
Na hora agá, faltando alguns minutos para o jornal ir ao ar, fui chamado às pressas. Era para cortar a referência a Palocci e incluir a eleição de Fernando Gabeira, com 293 mil votos. Eu não entendi nada, uma vez que muitos outros candidatos, de outros estados, tinham sido eleitos com votação superior. Celso Russomano, que não foi citado, teve mais de 573 mil votos em São Paulo. Foi aí que me dei conta: o deputado Gabeira tinha algum amigo "forte" na Globo do Rio.
Será que Gabeira está sendo preparado para fazer o papel da Heloisa Helena de 2010? Nada contra a senadora do PSOL. É que, durante a campanha eleitoral de 2006, as regras para a cobertura eram rígidas: os candidatos deveriam ter tempos iguais e só podiam aparecer no Jornal Nacional fazendo propostas, nunca atacando uns aos outros. Em geral, um minuto cada.
Mas, no meio do jogo, as regras foram "relaxadas". Nos dias em que surgiam acusações contra o governo o Jornal Nacional passou a dar três minutos para que Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque atacassem o governo. Numa ocasião específica um editor no Rio selecionou para ir ao ar um trecho de entrevista em que Heloisa Helena acusava Lula ou o PT pelo assassinato de Celso Daniel. A própria editora da reportagem, que estava em São Paulo, achou exagerado permitir uma acusação sem provas em rede nacional de TV. Fez essa observação à chefe, que ligou para o Rio de Janeiro. A fala da senadora foi trocada por outra, mais amena.
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