terça-feira, 11 de março de 2008

Os clichês da política cambial - por Luis Nassif

Há certos clichês que rondam a política cambial. O principal deles é que, como se está em regime de câmbio flutuante, qualquer problema futuro nas contas externas será automaticamente resolvido com uma desvalorização do real.

Trata-se de um sofisma de mercado que serve apenas para pegar incautos.

A atividade econômica não pode ficar a reboque das contas externas. Qualquer país sério do mundo trabalha com o conceito de segurança nacional. Um dos pilares dessa segurança é não depender de suprimentos externos estratégicos. E o mais estratégico dos suprimentos externos é o dólar – principalmente para um país que não tem moeda conversível (negociada internacionalmente).

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Uma das razões é não estrangular a economia – como quase ocorreu em 2002. Outra é não colocar a economia a reboque do câmbio. A idéia de que basta alterar o câmbio para que tudo se resolva é falsa.

Vamos à análise sobre alguns setores da economia:

1. Agronegócios.

O agricultor necessita estar capitalizado para investir em tecnologia e conquistar mercados. Quando o câmbio estava a R$ 2,80 ele começa a plantar. Os custos subiram na mesma proporção, seja porque estão em dólares, seja devido ao aumento da demanda. Ele se endivida a R$ 2,80 para pagar a prazo. Na hora de colher, o câmbio está a, digamos, R$ 2,40. Só aí já haverá uma enorme descapitalização. Esse ciclo repetiu-se várias vezes. O resultado foi um enorme endividamento e, em fazendas menos capitalizadas, o aumento da depreciação pela falta de recursos para renovar equipamentos.

Mais. Os equipamentos geralmente são cotados em dólares. Ao tomar financiamento do Finame, a dívida é em reais. Quando o dólar cai, caem os preços dos equipamentos mas a dívida permanece em reais. Cria-se um desequilíbrio fatal entre ativos e passivos.

2. Indústria exportadora.

Para exportar, quando o câmbio estava favorável, o exportador precisou desalojar um concorrente internacional e convencer o comprador a trocar de fornecedor. Se ele começou a exportar a R$ 2,80 e fechou contratos de entrega, quando o câmbio caiu para R$ 2,40 teve que arcar com o prejuízo. Se deixou de fornecer, quando o câmbio voltar a ser competitivo perdeu o mercado e a confiança do comprador. Dependendo do tombo, ele quebra. Um movimento de câmbio de R$ 3,00 para R$ 1,60 deixa mortos pelo caminho, mesmo que depois retorne para R$ 2,00.

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O mercado gosta de mencionar exemplos de empresas que conseguiram driblar o câmbio, mudar o mix de produtos e sobreviver. Parte delas substituiu compras interna de insumos por importação. A cadeia produtiva foi esfrangalhada. Com o aumento dos componentes importados, quando houver a desvalorização do real vai impactar toda a estrutura de preços – muito mais do que antes.

Além disso, as empresas que conseguiram reciclar, com o mesmo esforço que fizeram estariam bombando – se o câmbio permanecesse competitivo – e não apenas sobrevivendo, com o câmbio apreciado.

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