terça-feira, 27 de outubro de 2009

A casa da Mãe Joana do Banco Central - por Luis Nassif

No final do ano passado, em pleno burburinho da crise, um diretor do Banco Central deu uma entrevista em “off” alertando que, se a Fazenda decidisse tomar qualquer medida para conter fluxos de capital, a diretoria do banco se demitiria em bloco.
Na ocasião, sugeri que a Polícia Federal abrisse um inquérito e processasse o irresponsável que se escondia atrás do sigilo de fonte para cometer essas irresponsabilidades.
O BC atua em área de alta sensibilidade a notícias e a boatos. Exige de seus diretores maturidade, responsabilidade, espírito público. Mas não ocorre. A extrema auto-suficiência do banco acabou consolidando em sucessivos diretores a idéia de que só devem prestar contas ao mercado.
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Meses atrás, quando o BC foi instado a compor reservas para reduzir a volatilidade do dólar, outra declaração irresponsável, desta vez do diretor Mário Torós em “on”, afirmando que a compra de reservas não segurava a queda do dólar, praticamente induzindo o mercado a apostar na manutenção da queda do dólar.
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As atas do Copom (Comitê de Política Monetária) são outra forma de indução do mercado, não para reduzir mas para manter os juros elevados. A última apontou riscos inflacionários possíveis, mas não prováveis, para o próximo ano. Não há nenhuma garantia, nenhuma certeza, apenas a análise da evolução da demanda, sem levar em conta o impacto antiinflacionário das tarifas, do câmbio. Simples assim. No momento seguinte, o mercado estava apostando em inflação maior. Hoje, a pesquisa Focus indicava que o mercado “aposta” na inflação de 2010 batendo no centro da meta.
Não existe rigor científico, modelitos, planilhas que justifiquem essa aposta. No fundo, o que o mercado faz apenas é apostar em qual será o cenário em que o BC aposta. É o próprio banco induzindo a uma alta nas expectativas de inflação para justificar a manutenção ou elevação dos juros.
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Não se fica nisso. Na semana passada, em duas matérias no “Valor Econômico”, o misterioso diretor em “off” – que é o Torós ou o Mário Mesquita – valentemente (porque protegido pelo abuso do “off” por parte dos jornalistas entrevistadores) despejou críticas contra a introdução da cobrança de IOF sobre os investimentos externos em bolsa e na renda fixa.
Disse que haveria um desestímulo ao mercado de capitais. Mesmo que houvesse, qual a responsabilidade do BC sobre o mercado de capitais? Nenhuma. Esse irresponsável usou o nome do BC – caso contrário sua afirmação não teria nenhuma relevância – para investir contra uma decisão de governo, obrigando o próprio BC a uma nota oficial.
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Nenhuma medida contra esses descalabros verbais continuados, contra uma indisciplina óbvia, que não seria aceita em nenhum outro escalão da República, contra um lobby escancarado de quem não entendeu os novos tempos.
A cada entrevista em “off”, a cada indução ao aumento dos juros, o país perde nas contas públicas, perde no crescimento, embaralha as exportações, embaralha a capacidade das empresas de definirem taxas de retorno de seus investimentos (já que a volatilidade do câmbio atrapalha).
Está na hora de se dar um basta nessas leviandades.

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