terça-feira, 13 de outubro de 2009

Rosa dos Ventos - por Mauricio Dias (Cartacapital)

Como já era esperado, o senador tucano Tasso Jereissati apresentou um relatório contrário à entrada da Venezuela no Mercosul, proposta em um Contrato de Adesão que tramita no Congresso desde julho de 2006.

Na reunião da Comissão de Relações Exteriores do Senado, no dia 1º de outubro, quando Jereissati leu o parecer que fez, não apanhou ninguém de surpresa. Era uma carta já marcada. O relator, por exemplo, ausentou-se das sessões em que os depoentes apresentaram argumentos e informações divergentes dos palpites dele sobre a questão.

O que representam o relatório e o comportamento de Jereissati?

“Um ato hostil a um país com quem o Brasil tem aprofundado laços não apenas econômicos, mas também culturais e científicos. Lamentavelmente, o parecer não é apenas diplomaticamente equivocado. É também irresponsável”, responde o professor Fabiano Santos, coordenador do Núcleo de Estudos Sobre o Congresso (Necon/Iuperj), que faz acompanhamentos das comissões do Parlamento que tratam de temas relevantes para a inserção internacional do Brasil.

Segundo Fabiano Santos os dados do comércio entre Brasil e Venezuela nos últimos nove anos (gráfico) mostram “o tamanho da irresponsabilidade do relator”.

A aproximação comercial com a Venezuela é francamente favorável ao Brasil. Nos últimos dez anos, as exportações para a Venezuela aumentaram 858%, passando de 536,7 milhões de dólares, em 1999, para 4,6 bilhões de dólares em 2008. No ano passado, o Brasil teve um superávit comercial com os EUA de 1,8 bilhão de dólares. Com a crise, a Venezuela passou a representar 29% de todo o saldo da balança comercial brasileira. Dos 3 bilhões de dólares do saldo da balança, neste ano, 878 milhões de dólares vieram de negócios com os venezuelanos.

“A irresponsabilidade da rejeição do Protocolo de Adesão é ainda maior no campo político. O relatório de Jereissati, que evidencia uma forte preocupação com a fragilidade da democracia naquele país, sugere, como terapia, o isolamento político, negligenciando o potencial de contenção institucional que a inclusão ao Mercosul poderia ter, em um contexto em que tanto Chávez quanto a oposição se veem enredados em estratégias de radicalização política”, explica o coordenador do Necon.

Esse ponto provocou a indignação do senador Pedro Simon, durante acalorado debate com Jereissati. Em um momento de retorno aos seus melhores desempenhos na tribuna, Simon lembrou que “com a Venezuela dentro do Mercosul” haveria condição, na avaliação dele, “de garantir a democracia naquele país”.
Simon acredita que a posição do tucano Jereissati “favorece interesses contrários à integração continental, principalmente os norte-americanos”.

Mas não seria essa a motivação do senador Jereissati?

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Andante mosso
Ladeira abaixo e...
O resultado de uma sondagem de opinião do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), feita dia 21 de setembro, no Rio de Janeiro, mostra a dificuldade da candidatura do governador José Serra no estado.

A série do IBPS, iniciada em março, aponta para uma queda constante do nome do pré-candidato tucano: ele caiu de 30% para 22%.

Foram feitas 2006 entrevistas telefônicas representativas do eleitorado fluminense, distribuídas por critérios de sexo, idade e localização geográfica. A margem de erro é de 2,2%

... sem palanque
Além disso, com a candidatura presidencial de Marina Silva (PV) ruiu o palanque que se armava para Serra, cujo pilar seria a candidatura de Fernando Gabeira ao governo do estado.

O PSDB não tem alternativa consistente. O prefeito tucano Zito, de Caxias, na Baixada Fluminense, está totalmente envolvido nos planos eleitorais do PMDB. Já declarou apoio à candidatura ao Senado do deputado estadual Jorge Picciani.

Zito receberá R$ 32 milhões do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Município (Padem), após convênio firmado com Sérgio Cabral, candidato à reeleição.

A prefeitura municipal respira com oxigênio do governo estadual.

Nó diplomático
O Brasil deu um nó nos golpistas de Honduras.

Não definiu o status de Manuel Zelaya, abrigado na embaixada brasileira, sob pena de admitir o golpe, e nem reconhecerá o vencedor da disputa presidencial de novembro, caso o presidente deposto não reassuma o poder antes do pleito.

Não há, portanto, como negociar para que Zelaya reassuma só após a eleição.

Há apoio da comunidade internacional para as duas decisões.

Eleição rubro-negra
É grande o número de candidatos à presidência do Flamengo, na eleição marcada para novembro. Havia, originalmente, nove candidatos. Sobraram sete.

Já que a dívida do clube ultrapassa a casa dos R$ 300 milhões é de se perguntar: por que tanta gente quer o comando dessa massa falida?

A resposta é simples: o poder oferece muitas recompensas.

Sarapatel baiano
Vieira da Cunha, presidente nacional do PDT, avisa que o partido não vai abrir mão do comando da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara.

Severiano Alves, pedetista que presidia a Comissão, filiou-se ao PMDB depois que a direção do PDT interveio no diretório baiano para manter a coligação com o PT para a eleição de 2010.

Alves namorava a vaga de vice-governador na chapa do peemedebista Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional.

Família Mendes
O ex-prefeito de Diamantino Francisco Ferreira Mendes Junior, o Chico Mendes, foi multado pelo Tribunal de Contas de Mato Grosso em R$ 27.863,29, por irregularidades administrativas no exercício de 2008.

Algumas delas foram classificadas como de “natureza gravíssima”.

Chico Mendes é irmão mais novo do presidente do STF, Gilmar Mendes.

Cena intrigante
No sábado 3, os jornais cariocas traziam dois registros envolvendo policiais militares.

Um deles foi ferido pela explosão de uma granada dentro do carro, no subúrbio de Bento Ribeiro. O outro, já na reserva, foi preso com uma pistola 9 mm, no porta-luvas do carro, em Copacabana.

Dirigiam, respectivamente, uma Hilux blindada (225 mil reais/modelo 2009) e uma picape Nissan (125 mil reais/modelo Luxury 2009).

Os PMs que patrulham as ruas cariocas ganham em torno de mil reais e, recentemente, fizeram passeata por aumento de salário.

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Vida no cárcere
Em busca do preso perdido
O mundo estranho dos presídios brasileiros pode tornar-se mais conhecido e entendido, a partir de agora, com o método de pesquisa desenvolvido pelo antropólogo Cláudio Gama, do Instituto de Pesquisas Mapear.
Como a legislação proíbe o contato direto com o entrevistado e veta o uso de caneta, além do analfabetismo e da dificuldade de interpretação de uma parte dos presos, criou-se uma barreira intransponível para os pesquisadores.

Gama descobriu como saltar o obstáculo. Reuniu grupos de presos, num total de 80, em um mesmo ambiente, distantes 1,5 metro um do outro e distribuiu cartelas coloridas. Cada cor significava uma resposta para cada item do questionário. As cartelas foram depositadas em urnas individuais e, posteriormente, tabuladas.

Simples e engenhosa, a pesquisa foi aplicada a pedido do grupo F4, que reúne o Afro Reggae, a Central Única de Favelas, o Nós do Morro e o Observatório das Favelas, cujo objetivo era avaliar a Rebelião Cultural. Um trabalho que oferece oficinas de artes e esportes aos presos de Bangu 2, 3, 4 e Talavera Bruce, no Rio de Janeiro.

Em linhas gerais, os detentos consideraram que o programa ajuda a aliviar a tensão nos presídios e, principalmente, abre perspectiva de trabalho após o cumprimento da pena.

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