sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Sobre o câmbio - por Luis Nassif

A volta do círculo vicioso do câmbio
O círculo vicioso do câmbio está dado mais uma vez.
Tem-se o seguinte quadro internacional:
1. Excesso de liquidez e propensão a novas bolhas especulativas.
2. Dúvidas de monta sobre o fim da crise internacional.
3. Desalinhamento das taxas de juros nacionais, com alguns países puxando a alta de juros antes de outros.
Todo esse clima induz à volatilidade cambial no mundo.
Nesse cenário, o Brasil é a bola da vez dos movimentos especulativos. Há fundamentos sólidos para se apostar no Brasil, o reconhecimento de que saiu da crise antes dos demais, o mérito de ter sabido dosar medidas ortodoxas e anticíclicas, a percepção mundial de que será um dos países líderes da economia global nas próximas décadas.
Sobre essa base fundamentalista, ocorre o movimento especulativo que, nos próximos meses, inundará o país de dólares.
Em qualquer país racional, o Banco Central alteraria sua maneira de atuar sobre o câmbio e a política monetária. Por aqui, não só tem reforçado a visão ortodoxa, como tem atuado claramente visando estimular esse jogo especulativo.
Duas manifestações do BC, em países como os Estados Unidos, no mínimo ensejariam a abertura de um processo de responsabilização.
O primeiro, a declaração de um diretor do BC de que a compra de reservas cambiais não reduz a apreciação do real. O segundo, o relatório do BC apontando a possibilidade de elevação dos juros no próximo ano, como reflexo do aumento de despesas públicas – uma afirmação que não tem nenhuma base factual, ainda mais levando-se em conta de que a apreciação do real funciona como elemento anti-inflação.
Nos dois casos, o BC atuou como agente estimulador desse movimento de apreciação cambial.
Agora, se entra em período eleitoral, no qual a apreciação cambial conta votos. Haverá volatilidade no câmbio atrapalhando exportações e investimentos. Mas será contida, no início, pelas reservas cambiais.
No final do ano que vem, os economistas dos candidatos favoritos estarão estudando como sair da armadilha cambial que lhes foi deixada.
Em fins de 1998, o país começava a recuperar o ímpeto reformista, atropelado pelas jogadas cambiais do início do Real. Na ocasião escrevi que a imprudência com o câmbio mataria qualquer veleidade de FHC de fazer um bom governo.
Espero que essa desgraça não se repita agora.
O círculo vicioso do câmbio
Do Último Segundo
Coluna Econômica- 16/10/2009
Entenda como se comporta a dinâmica apreciação do câmbio-desvalorização cambial- nova apreciação do câmbio e o papel deletério do Banco Central.O investidor externo ganha sempre que o real se aprecia em relação ao dólar; e perde sempre que ocorre uma desvalorização.
1. Suponha que alguém traga US$ 1 milhão com o dólar a R$ 1,70. Ele vai conseguir R$ 1.700.000,00.2. Se ocorrer uma valorização do real e cada dólar passe a valer R$ 1,60, com aqueles R$ 1.700.000,00 originais, o investidor adquiriria US$ 1.062.500.00.3. Se o dólar saltar para R$ 2,00, os R$ 1.700.000,00 valerão apenas US$ 850.000,00.
***Entendido isto, vamos ver como se dá o jogo.
Suponha que o investidor entre no país com o dólar a R$ 2,00. Traz US$ 1 milhão, converte em R$ 2 milhões.
Aplica esse recurso em títulos do Tesouro e obtém mais 9% de juros ao ano. O valor do investimento salta para R$ 2.180.000,00.
Aí o dólar vai caindo, caindo, até valer R$ 1,70. Se ele converter os reais por essa cotação do dólar e tirar o dinheiro do país, sairá com US$ 1.282.353,00 – ou um lucro de 28% em apenas um ano, algo inconcebível em qualquer outra economia.
Se o investidor quiser arriscar um pouco mais, espera o dólar chegar a R$ 1,60. Nesse caso seus reais serão convertidos por US$ 1.362.500,00 – 36% de lucros ao ano.
***
A partir de determinado momento, entra-se na zona de risco. As exportações ficam muito caras, as importações muito baratas, o superávit comercial se torna déficit, as contas externas entram no vermelho.
O que pode fazer o investidor apostar por mais tempo no câmbio (prolongando a agonia do real valorizado) é o maior ou menor risco desse jogo.
Mas o investidor está tranquilo, porque sabe que o BC está montado em bom volume de reservas e pode bancar o prejuízo (do país) por mais tempo. Então, em vez de sair com o dólar a R$ 1,70 vai esperar até chegar nos R$ 1,60 ou abaixo disso.
***
Aí podem ocorrer dois gatilhos disparando o câmbio. O primeiro, uma crise internacional aumentando a percepção de risco global e fazendo com que investidores tirem seu dinheiro para se garantir em títulos dos países centrais. Ou então, as próprias contas externas do país entrarem em parafuso, independentemente do cenário externo.
Com as reservas cheias, o BC permite a saída sem risco dos investidores. Os mais espertos saem na frente, os mais lerdos atrás. Ocorre uma explosão do câmbio que vai, digamos, para R$ 2,20. A desvalorização cambial pressiona alguns preços – produtos exportados e importados e tarifas públicas. Como consequência, a inflação sai um pouco ou muito da meta. Para combatê-la, o Banco Central aumenta os juros.
Completado o ciclo, os capitais que fugiram do país olham para trás e se dão conta de um novo quadro.
Com o dólar a R$ 2,20, as contas externas entram em ordem e risco externo diminui. Ele terá uma enorme possibilidade de ganho – com o dólar descendo de novo de R$ 2,00 para R$ 1,60 – e, agora, taxas maiores do BC remunerando seu dinheiro.
Esse ciclo vicioso tem exaurido as possibilidades de crescimento do país. E está se repetindo novamente. Será a herança maldita de Lula para seu sucessor.

Comentário: depois destas postagens, veio o novo imposto destinado a tentar salvar a indústria brasileira da doença holandesa.

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