sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A economia e o discurso público - por Luis Nassif

Coluna Econômica – 21/10/2009

Na cerimônia de premiação das empresas mais respeitadas do Brasil – pela revista Carta Capital – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avançou mais alguns pontos na definição do novo modelo de desenvolvimento brasileiro.
É curioso como se processam essas mudanças. O Lula que discursou no evento nada tem a ver com o Lula do início do governo, a não ser no pragmatismo e na capacidade de análise da realidade. Não é um intelectual, um formulador – nem é seu papel. Mas consegue sintetizar o novo modelo de desenvolvimento com uma linguagem tal que pode ser entendido pelo especialista e pelo mais humilde brasileiro.
***JK conseguiu esse primor de síntese com seus “cinquenta anos em cinco”. Não era apenas o slogan, mas o sentido de urgência que imprimia em todos seus discursos. O país já tinha preparado as bases para um crescimento acelerado – com exceção do câmbio que estava apreciado. Getúlio Vargas tinha construído grandes estatais – CSN, Eletrobras -, a infraestrutura inicial estava plantada e, agora, a questão era crescer.
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Outro momento célebre foi a declaração de Fernando Collor sobre as “carroças”. Na década anterior houve exagero no fechamento da economia, na estatização e na burocratização, levando ao envelhecimento do parque industrial brasileiro. A expressão rapidamente ganhou corações e mentes do país.
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O momento atual é muito mais complexo do que os anteriores – porque o Brasil é muito maior do que era vinte ou cinquenta anos atrás. O grande desafio é entender o país como a soma de todas as partes, a inclusão de todos os agentes.
Foi isso que Lula trouxe em seu discurso. Primeiro, enfatizou valores irreversíveis: defesa da estabilidade monetária e fiscal, responsabilidade na condução da política econômica.
Depois, começou a juntar as peças que compõem o novo quadro do país. Mostrou que, ao levar as políticas assistenciais aos excluídos, tornou-os consumidores. E eles passaram a consumir chocolate da Nestlé (dirigindo-se ao presidente da empresa Ivan Zurita), cremes da Natura (o mesmo em direção à empresa), eletrodomésticos”.
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Depois, narrou a história da senhora que, no canal do São Francisco, vendia copos de guaraná. Um ano depois, com a movimentação econômica trazida pelas obras, foi ampliando as vendas, passou a vender refeições, comprou um carro e, na última declaração de renda, pagou 5 mil de imposto.
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Na diplomacia, relembrou seu passado sindicalista. Para receber respeito dos interlocutores, tem que conversar de cabeça erguida. Manifestou sua profunda crença no modo de ser brasileiro.Finalmente, revelou porque surgiu esse novo Lula – que, na verdade, emerge apenas após a grande crise mundial do ano passado. É que todos os dogmas foram revirados de cabeça para baixo. Os expelidores de regras – FMI, bancos estrangeiros – de repente se viram sem discurso. E isso abriu caminho para um conjunto de medidas que, não tivesse Lula sido tão excessivamente cauteloso, poderia ter sido adotadas anos atrás, evitando o desperdício de tantos anos de crescimento rastejante.

O pedágio anti-bolha

A criação da alíquota de 2% para aplicações estrangeiras em renda fixa e ações é um “pedágio” para impedir o surgimento de uma bolha especulativa na Bolsa brasileira, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. O ministro afirmou que o objetivo é “evitar excessos de modo a não causar uma bolha na bolsa de mercadorias e de modo a não causar uma sobrevalorização do real, porque isso causa danos para a produção brasileira”.

IOF afasta investimentos

O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para capital estrangeiro vai inibir os investimentos em ações, diz o economista Márcio Garcia. Como exemplo, cita a Petrobras, que negocia ações nos mercados brasileiro e norte-americano por meio de ADRs (recibos de ações brasileiras nos EUA, isentas do imposto). “Isso (o IOF) vai fazer com que as empresas prefiram fazer ADRs a fazer lançamentos na Bolsa brasileira”, argumentou.

A quarta maior economia

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil pode superar a projeção do Banco Mundial de ser a quinta maior economia do mundo até as Olimpíadas de 2016, no Rio do Janeiro. “Não temos pretensão de ser a primeira (economia), mas podemos estar entre as quatro maiores economias do mundo sem inventar”, disse, ressaltando que a receita do crescimento será a distribuição de renda e os investimentos do setor privado.

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