segunda-feira, 26 de outubro de 2009

O último dogma econômico - por Luis Nassif

O País de hoje é totalmente diferente daquele de um ano atrás. O Lula de agora nada tem a ver com o ultracauteloso e ortodoxo presidente do ano passado.
Esses cortes históricos são curiosos. Na música popular, por exemplo, o Brasil de 1930 era totalmente diferente do de 1929, mesmo sendo o mesmo. É como se um conjunto de ideias novas, conceitos novos que estavam encobertos viessem à tona.
No campo econômico, a crise acabou com inúmeros dogmas responsáveis pela anorexia econômica brasileira, por essa maluquice da opinião pública midiática entrar em pânico a cada respiro de crescimento do País.
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Um dos dogmas era a questão do PIB potencial. Montavam-se planilhas com cenários, cruzavam-se dados para provar que, dadas as condições do momento, o País não poderia crescer mais do que alguns pontos ao ano. Ano após ano essa asneira foi sendo retificada pelos fatos. Os “cabeções” passaram a adaptar suas planilhas para níveis de crescimento maiores.
Outro dogma era o da taxa de juros de equilíbrio. Abaixo de determinado nível de taxa de juros real (descontada a inflação) as empresas passariam a remarcar preços. Uma monumental asneira, pela qual, em vez de observar o seu mercado para definir o preço – mais competição, menos preço; menos competição, mais preço –, a empresa apenas olharia inflação futura e compararia com a taxa de juros futura. Outra asneira que, embora desmentida ano a ano pelos fatos, foi mantida graças ao expediente dos cabeções de reduzir gradativamente o que entendiam como ponto de equilíbrio.
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Entrou-se, então, no dogma do superávit nominal. No dia em que o País conseguisse cobrir até a conta de juros com superávit fiscal, as taxas de juros despencariam e o céu seria alcançado. Elas despencaram sem que se tivesse que cortar a alma para obter o equilíbrio nominal.
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O último dogma que falta para ser superado – possivelmente só no próximo governo – é que não dá para conviver taxa de câmbio desvalorizado com controle inflacionário. É um modelo que exige taxas de juros compatíveis com as internacionais, para evitar esquemas de arbitragem de dinheiro (o investidor tomar dólares a uma taxa mais barata e entrar no País, lucrando com a taxa mais elevada e com a apreciação do real).
Quando Lula assumiu, em 2003, a economia passara por uma aguda desvalorização cambial seguida de inflação. Por volta de abril o câmbio continuava desvalorizado mas a inflação já cedia. Mesmo assim, permitiu-se a apreciação excessiva do real.
Só vai-se conferir que o câmbio desvalorizado permitirá à economia brasileira alçar voo – sem colocar em risco as metas inflacionárias – quando se conferir na prática. Só que a passagem de um modelo para outro – do câmbio apreciado para o desvalorizado – cria fricções, passageiras, mas que tiram o sono dos governantes.
Por isso mesmo, será necessário – em um ponto qualquer do futuro – mais uma visita do Sr. Crise para se demover das miragens econômicas brasileiras o último dogma que falta ser transpostos para a economia alçar voo de cruzeiro.
O imposto internacional sobre transações
Países ricos e emergentes querem criar impostos sobre transações financeiras, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento. “Decidimos criar um grupo de trabalho para definir várias opções de financiamento ao desenvolvimento, aplicadas às transações financeiras”, afirmam os 12 países fundadores do grupo – o Brasil incluso. Até maio de 2010, os países querem avaliar meios de cobrar uma taxa sobre transações financeiras.

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