sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A grande mídia e a democracia - Por weden (blog do Nassif)

Nassif,
O que vem acontecendo com você leva-nos a duas conclusões relativas ao papel social da grande mídia nas sociedades modernas e ao novo contexto inaugurado pela rede.
No mesmo dia em que o tal juiz resolveu, sabe-se lá com quais argumentos, “esquecer” todos os abusos cometidos pela revista Veja, com o sentido explícito de tentar silenciar seu trabalho…nesse mesmo momento, distante milhares de quilômetros daqui, nos EUA, Obama abria o verbo contra a postura absolutamente partidária, desrespeitosa e interesseira da Fox.
Na mesma semana, soubemos, também, dos resultados de uma auditoria internacional sobre a atividade dos barões da mídia no Equador; da reação selvagem à lei de imprensa na Argentina, e continuamos vendo a defesa indecente do golpe em Honduras por alguns órgãos de comunicação brasileiros.
Na mesma semana, vimos a Band aumentar sua campanha, utilizando-se de uma concessão pública, para defender a não atualização dos índices de produtividade, estacionados desde a era do arado a boi.
Vimos outras tantas e tantas notícias falsas, merecedoras de manchetes, tantos e tantos ataques estúpidos, tantos e tantos silêncios injustificáveis de colegas de trabalho.
A primeira conclusão a que chegamos é que a grande mídia, ao ter “exponenciado” seu poder, vem se tornando tão perniciosa à sociedade quanto qualquer facção cujo interesse seja absolutamente parcial.
Não há princípio republicano na grande imprensa. E a ela não interessa o “todo” das vozes sociais.
Nesse caso, temos que admitir que o Legislativo – cujas cadeiras são ocupadas por representantes de toda a sociedade – e o Executivo, de qualquer esfera, cuja ação é julgada periodicamente, são ainda a reserva de proteção que nós temos contra interesses tão graves como os representados pela grande mídia.
A grande mídia vem fracassando sistematicamente em ser um fórum ou tribuna para as mais distintas vozes sociais. Não porque não consegue ou não tem sensibilidade, mas porque não quer, a ela não interessa.
Ao contrário – e principalmente ao contrário do Congresso, das Assembléias Legislativas e das Câmaras de Vereadores – ela atua no sentido de calar e silenciar aqueles que não concordam com ela.
É hora de pensarmos seriamente se a ênfase da grande mídia sobre os males da política não são uma estratégia pensada e executada para destruir uma das instâncias que, apesar dos pesares, ainda tem o mérito da pluralidade.
É hora de pensarmos seriamente se ao tentar se colocar no lugar do Legislativo, e quiçá dos Executivos, e porque não das instâncias do Judiciário, a grande mídia não acabará mesmo é colocando a sociedade em risco, pelo menos a parte da sociedade que nela não está representada.
A segunda conclusão é de que a reação de revistas como a Veja ao seu trabalho em prol de uma cobertura mais séria mostra que a rede abriu um espaço que definitivamente incomoda este todo-poder que a grande imprensa percebe ter conseguido.
Embora você, Nassif, esteja no olho do furacão, e por isso sua luta acabe por se particularizar, saiba que o Caso Veja é claramente o emblema da luta dos novos espaços midiáticos abertos pela rede contra grupos oligárquicos que pretendem se instaurar como o único, e possivelmente um dos mais perigosos poderes que a sociedade Ocidental conheceu.
Sua luta, nada romântica, nada idealista, mas emblemática, aponta para muito longe, meu caro.
Aponta para um tempo que já se consolidou – a grande mídia deixando de ser o watchdog da sociedade e passando a ameaçar os poderes republicanos – e um tempo que vai se abrindo – o da rede colocando-se naquele lugar que outrora a grande mídia prometeu ocupar.

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