Em discurso, petista ainda comparou transposição à obra feita pelo presidente americano Roosevelt na região do vale do Tennessee
SIMONE IGLESIAS
ENVIADA ESPECIAL A CUSTÓDIA (PE)
Em um raro ataque direto ao presidenciável tucano José Serra, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o governador paulista começou a se preocupar com o Nordeste apenas por conta da campanha eleitoral do ano que vem.
Lula, no segundo dia de vistoria de obras da transposição do rio São Francisco, respondia às críticas de Serra de que a obra não levava em conta as populações ribeirinhas, por haver “absoluta ausência de investimentos em irrigação”.
“Não sabia que o Serra tinha alguma preocupação com o Nordeste, mas se começa a ter um pouquinho perto das eleições é um bom sinal. O que é triste é isso, vai passando o tempo, as pessoas não falam, ficam mudas, e quando vai chegando perto das eleições as pessoas começam a preparar o discurso para a campanha”, disse.
Serra tem alguns de seus mais baixos níveis de intenção de votos em regiões do Nordeste, redutos eleitorais lulistas em que a aprovação do presidente tem seus picos.
“Serra que fique esperto porque a gente vai inaugurar [obras de] irrigação no Nordeste nesses próximos meses. Quem sabe eu até convide ele para participar de algumas para compreender o que está acontecendo”, afirmou Lula, em entrevista a rádios nordestinas.
O tucano não foi o único alvo do petista, que depois discursou. Lula voltou a criticar a ação do TCU (Tribunal de Contas da União), cujos embargos a obras federais vêm provocando reações no governo, e chamou o Judiciário de “irresponsável”. Por fim, criticou também o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que fez greve de fome contra a transposição.
“Durante 25 anos este país não cresceu e, pelo fato de ele não crescer, nós fomos criando uma máquina poderosa de fiscalização infinitamente superior à máquina de execução. É como se uma seleção tivesse o time reserva melhor do que a titular”, disse especificamente sobre o TCU.
Em entrevista à Folha no início do mês, o presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, disse que “o tribunal não pode ser visto como algoz pelos Poderes, mas como parceiro”. Em sua avaliação, “quem é fiscalizado nunca fica muito à vontade, mas cada um tem de cumprir a sua parte”.
Lula também disparou contra a Justiça: “[Houve] projetos que ficaram parados anos e não por nossa culpa, mas por irresponsabilidade do Judiciário, da Justiça, por erros de projeto que estamos recuperando”.
Sem citar o nome de dom Luiz, afirmou: “Teve um bispo que fez até greve de fome para que não se fizesse essa obra. De vez em quando aparece um movimento em São Paulo, Salvador, Rio de Janeiro, contra. Eles não têm conhecimento do bem que essa obra está fazendo. Não quero que a gente mate um passarinho, um calango, uma cobra, agora, não posso deixar o povo pobre morrer de sede e de fome”, disse.
Lula citou estudo da FAO (agência da ONU para alimentação), segundo o qual 1 bilhão de pessoas passam fome no mundo. “Se a gente não cuidar, o principal animal em extinção no mundo será o ser humano, não é pouca coisa. E acontece isso não é por falta de tecnologia, por não investir. É que quando a gente quer fazer uma obra como essa os que tomam café da manhã, almoçam, jantam, tomam água gelada todo dia são contra a gente fazer.”
E continuou: “Resolvi fazer [a obra] não porque sou engenheiro, mas porque eu, com sete anos, carreguei pote de água na cabeça e sei o sacrifício”.
A seu lado, a presidenciável de sua escolha, Dilma Rousseff (Casa Civil), não discursou.
Em discurso a operários do trecho 11 da obra, Lula se comparou ao presidente Franklin Roosevelt (1933-1945). “Só tem coisa igual [à obra] quando o presidente Roosevelt pegou o lugar mais pobre dos EUA, chamado vale do Tennessee, e resolveu transformar aquela região em produtiva. É isso que estamos fazendo com nosso querido Nordeste”, afirmou.
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