Quem se dispuser a pesquisas, na aba de ECONOMIA, os alertas que fiz inúmeras vezes sobre a imprudência cambial e conferir os comentários, terá uma idéia de como é difícil apontar problemas futuros em política cambial.
Quando se adota uma política cambial imprudente, o primeiro efeito é de euforia. A apreciação cambial melhora a vida do Banco Central porque traz a inflação para a meta; melhora momentaneamente o poder aquisitivo das famílias; e proporciona lucros excepcionais ao mercado, que aposta na apreciação do real sem correr riscos.
Quem ousa apontar para os riscos a médio prazo leva bordoada de todo lado. Mesmo que os riscos sejam óbvios e a situação insustentável no méido prazo.
Havia dois pontos que impediam claramente a apreciação sustentada do real.
O primeiro, o aumento do déficit em transações correntes. O Banco Central e os cabeças de planilha diziam que não era risco, porque o déficit poderia ser facilmente coberto com investimento externo. O segundo, a própria crise financeira internacional.
Em uma das primeiras atas do Copom no ano, na análise do cenário externo se falava de aumento da volatilidade, aumento da percepção de risco no mercado mundial – em suma, um conjunto de fatores indicando o estreitamento próximo da liquidez internacional. Mas a conclusão da Ata permanecia impávida: será fácil financiar o déficit em transações correntes. A conclusão trombava de frente com a análise internacional que constava da própria Ata.
No fundo, a Ata do Copom traz um enorme caleidoscópio do quadro da economia nacional e internacional, permitindo qualquer tipo de conclusão do Copom. Se quiser justificar alta de juros, é só selecionar trechos que falam de aquecimento passado da demanda. Se quiser justificar a queda, é só selecionar os trechos que falam da queda da demanda mundial e das perspectivas de desaceleração da demanda doméstica.
A diferença entre o grande economista e o cabeça de planilha está, justamente, na seleção dos fatores predominantes. Mas o Copom sempre ficou nos fatores acessórios.
Agora, o que se tem objetivamente é a estilingada do dólar, a desvalorização cambial, comprovando a rematada imprudência do BC.
Confira os custos desse amadorismo suspeito:
1. O aumento expressivo da dívida, com os juros da taxa Selic, foi dinheiro jogado fora. Levantaram os alicerces da estratégia inflacionária em cima do pântano - um ativo que se sabia totalmente volátil, ainda mais após a crise do subprime.
2. Com a desvalorização cambial, haverá nova rodada de aumento de preços, provocando nova rodada de aumento de juros. Ou seja, to custo adicional de aumento da taxa Selic foi desperdício puro; que, agora, provoca um novo desperdício: a segunda rodada de aumentos para corrigir os erros da primeira.
3. Aumentaram substancialmente os índices de componentes importados na cadeia produtiva da indústria. Abriram-se mão de fornecedores, desmontaram-se cadeias produtivas e, agora, a desvalorização cambial terá impacto mais intenso sobre a estrutura de custos da indústria.
Quem paga? Nós.
O pior é que o Copom adotou um modelo de auto-preservação em que não existem responsabilidades definidas.
Não se divulgam os votos individuais e os erros – que são de pessoas – ficam debitados a essa entidade chamada Copom. Que, com o auxílio dos cabeções, transferem a responsabilidade para uma outra entidade: o mundo real.
O Copom nunca erra. Como diria Maílson: o erro é da realidade.
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