Os Estados Unidos estão preparando o terreno para uma intervenção armada na América Latina. Washington parece ter chegado à conclusão de que o controle dos recursos naturais na região, exercido através de terceiros em países como o Brasil, exigirá um confronto direto com o governo de Hugo Chávez.
Como se sabe, os Estados Unidos ajudaram a patrocinar o golpe de estado que, por algumas horas, afastou Hugo Chávez do poder em 2002.
Através do National Endownment for Democracy, o NED, o governo dos Estados Unidos continua a financiar atividades de "promoção da democracia" em países como a Venezuela e a Bolívia.
O NED, criado durante o governo de Ronald Reagan, assumiu atividades civis antes delegadas à Central de Inteligência Americana (CIA). Washington considera que essas atividades de "fortalecimento da sociedade civil" são mais eficazes que ações clandestinas.
O primeiro teste bem sucedido da estratégia do NED se deu com a derrota eleitoral dos sandinistas na Nicarágua diante de uma coalizão patrocinada pelos Estados Unidos e liderada por Violeta Chamorro, em 1990. A ação está documentada no livro A Faustian Bargain, de William Robinson.
O NED funciona como um canal através do qual dinheiro público dos Estados Unidos financia atividades desenvolvidas por entidades ligadas aos empresários, aos sindicatos e aos dois principais partidos estadunidenses, o Democrata e o Republicano. Isso garante apoio bipartidário no Congresso.
O NED teve atuação importante na Sérvia, na Geórgia, na Bielorrússia, na Rússia, na Ucrânia e em vários outros países, sempre promovendo grupos políticos da sociedade civil que faziam avançar os interesses dos Estados Unidos.
O dinheiro é aplicado em monitoramento de eleições, pesquisas eleitorais e treinamento de novas lideranças políticas.
Aqui há um artigo em inglês que dá uma visão geral sobre a chamada "democracy assistance".
A decisão do governo Bush de formalizar a acusação contra dois integrantes do alto escalão do governo Chávez de apoio ao narcoterrorismo abre espaço para justificar uma intervenção militar alegando que se trata de "combater o terrorismo". Não vai acontecer amanhã. É uma política de estado, não de governo, cuja implementação depende da conjuntura política internacional e dos conflitos no Iraque e no Afeganistão.
Os Estados Unidos apoiaram o ataque da Colômbia ao acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) no Equador, o que abriu espaço para regionalizar o conflito e justificar a flexibilização das fronteiras.
Tanto o democrata Barack Obama quanto o republicano John McCain adotam o apoio à Colômbia em suas plataformas eleitorais, com endosso a ações militares preventivas em nome do "combate ao terrorismo".
O controle das reservas petrolíferas da bacia do Orinoco, na Venezuela, e do gás natural boliviano são os objetivos de longo prazo dos Estados Unidos.
O governo que precedeu o de Evo Morales, de Gonzalo Sánchez de Lozada, caiu por pretender exportar gás boliviano para os Estados Unidos em navios através do Chile. A campanha eleitoral de Lozada foi magistralmente retratada no documentário Our Brand is Crisis.
Na Venezuela, Hugo Chávez foi brevemente derrubado logo depois de trocar a direção da PDVSA, a gigante estatal que sempre foi administrada atendendo aos interesses externos dos Estados Unidos.
No documento que reproduzo abaixo - a plataforma de Barack Obama - está explícito o apoio que mesmo o candidato democrata dá à política de ataques preventivos da Colômbia na vizinhança. Quando o embaixador do Brasil cobrou de um assessor de Obama essa posição, dizendo que ela era rejeitada em toda a região, o assessor disse que o documento não representa o pensamento do democrata - mas ele permanece como referência na campanha do senador.
PS: Esta é uma área em que recomendo aos leitores que busquem informações na mídia alternativa. Tem sido assim no Equador, na Bolívia, na Venezuela, na Argentina e, naturalmente, no Brasil: a mídia corporativa coloca os interesses políticos e econômicos externos adiante dos nacionais. Quer um lembrete histórico? É só lembrar do golpe de 1964 no Brasil. Ou do jornal El Mercurio no golpe do Chile. Ou da RCTV no golpe contra o Chávez. Ou do jornal boliviano La Razón em relação a Evo Morales. Ou do jornal El Comercio em relação ao governo de Rafael Correa, no Equador. Você acha que o Ali Kamel dará apoio ao Lula ou ao McCain?
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