sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Partido Republicano é o da classe trabalhadora - por David Frum (The Week)

Poucas coisas enraivecem mais os democratas que o sucesso consistente dos republicanos ao rotular os candidatos presidenciais democratas como privilegiados esnobes.

E este ano está acontecendo de novo.

John McCain pode ser filho e neto de almirantes, casado com uma mulher que tem um fortuna estimada em cerca de 100 milhões de dólares.

Mas é Barack Obama, filho de mãe solteira e neto de um pastor de cabras queniano quem sofreu o dano de ser percebido como aquele que é arrogante e distante. Como o [jornal humorístico] Onion manchetou: "Descrição de Obama como Elitista Saudada como Grande Passo Adiante para os Afro-Americanos". Os democratas ficarm incrédulos, esfumaçando de raiva.

Mas não há grande mistério.

Os americanos aceitam liderança política de homens ricos como Andrew Jackson a Arnold Schwarzenegger – desde que esses homens demonstrem que têm valores comuns com os vizinhos mais pobres. Mas qualquer sinal de que o candidato se acha superior cultural ou intelectualmente e -- pau! -- é o fim.

Agora compare as histórias de vida dos candidatos recentes a presidente e vice-presidente republicanos e democratas..

George H.W. Bush, Dan Quayle, Bob Dole, Jack Kemp, George W. Bush e Dick Cheney eram e são todos ricos e bem sucedidos. Mas nenhum deles deve a riqueza ou o sucesso primariamente à sua educação.

Compare essa lista com Bill Clinton, Al Gore, Joe Lieberman, John Kerry e John Edwards. Para quase todos esses democratas o evento decisivo de suas vidas foi a carta anunciando a admissão em alguma universidade ou faculdade de Direito da elite -- ou ambos.

O contraste entre Barack Obama e John McCain é, assim, familiar e claro: o acadêmico e o guerreiro, o brilhante presidente da [publicação] Harvard Law Review contra o galante prisioneiro de guerra.

E também é familiar e claro como o apoio a eles está distribuído.

O apoio ao Partido Democrata é o maior onde as conquistas da educação formal são maiores.

Dos dez estados com a maior proporção de formados em universidade Obama com certeza vence pelo menos em sete, com apenas Virgínia, Colorado e New Hampshire oferecendo qualquer esperança a McCain. Dos dez estados com a menor proporção de formados em universidade McCain vai provavelmente vencer em nove, com apenas Nevada em jogo.

As diferenças entre os estados não são pequenas. Quase 45% da população de Massachussets têm diploma universitário, comparados com apenas 14% da população da Virgínia Ocidental.

Os comentaristas da mídia habitualmente se negam a reconhecer as implicações da divisão de classes. Durante a Convenção Republicana eu passei várias vezes por uma placa do [programa de televisão] Daily Show em que estava escrito: "Bem vindos oligarcas ricos e brancos". Não importa que as pesquisas tenham mostrado que havia mais delegados democratas do que republicanos com renda superior a 100 mil dólares anuais.

Ainda que isso não seja avaliado, a classe social deverá ser decisiva ao determinar a reação dos eleitores com a situação pessoal da companheira de chapa de John McCain, a governadora do Alasca Sarah Palin.

[O consultor democrata Bob] Shrum despreza as posições de Palin como extremas e insiste que as eleitoras de Hillary Clinton vão rejeitá-las. Mas as eleitoras de Hillary -- muitas das quais são mais velhas e menos educadas -- podem descobrir que têm muito mais em comum com as batalhas pessoais de Sarah Palin do que com os triunfos pessoais de Barack Obama.

Desde 1990 os Estados Unidos com educação universitária experimentaram uma contra-revolução sexual. As chances de divórcio cairam muito entre as mulheres formadas e o nascimento de crianças de mães solteiras é incomum.

Para essas mulheres, a história de vida da família Palin pode parecer exótica, estranha. Nos Estados Unidos com diploma crianças podem engravidar aos 17 anos -- mas não levam a gravidez até o fim, nem casam com o pai. Casamento entre adolescentes aumenta as chances de divórcio; maternidade de adolescentes interfere com a edução e, assim, os Estados Unidos educados rejeitam ambos.

Nos Estados Unidos sem diploma, no entanto, ainda estamos nos anos 70. As chances de divórcio permanecem tão altas quanto antes e a taxa de partos de mães solteiras está acima de 25% -- mais alta do que entre negros quando Daniel Moynihan diagnosticou a crise da família negra nos anos 60. Para muitos deste grupo o caso de Palin vai se parecer com o de suas próprias famílias.

Com a indicação de Barack Obama os democratas intensificaram a sua imagem como o partido das minorias e dos Estados Unidos branco de classe alta. Entre os brancos, os democratas chamam votos dos mais educados, dos que tiveram sucesso em uma cultura pós-moderna desestabilizadora e na economia global.

Ao escolher Sarah Palin os republicanos, por contraste, reafirmaram sua identidade como o partido da classe trabalhadora branca dos Estados Unidos -- daqueles que se preocupam com ameaças culturais e econômicas contra suas famílias.

O uso que o [Bob] Shrum faz de "extremismo" não ajuda a esclarecer. Barack Obama, John McCain e agora Sarah Palin são candidatos da política de identidade, que atraem ou repelem por quem são tanto quanto pelo que dizem ou fazem.

— David Frum, a resident fellow at the American Enterprise Institute, is the author of six books, including most recently COMEBACK: Conservatism That Can Win Again. In 2001 and 2002, he served as a speechwriter and special assistant to President George W. Bush. In 2007, he served as senior foreign policy adviser to the Rudy Giuliani presidential campaign. He blogs daily at Frum.NationalReview.com.

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