sábado, 13 de setembro de 2008

Itagiba dá show de horrores na CPI dos grampos - por PHA

O deputado Marcelo Itagiba (PMDB/RJ) assumiu hoje, definitivamente, a postura de bad cop, o policial truculento cujo papel é a agressão e a intimidação. No caso, contra um servidor da Abin e contra a própria agência de inteligência. Durante a sessão desta quarta, 10, na CPI das Escutas Clandestinas, Itagiba tentou conseguir alguma informação, qualquer informação, na marra. O objetivo de tal truculência não ficou claro. A CPI é sobre interceptações telefônicas, não sobre o funcionamento da Abin. Mesmo assim, pelo conteúdo das colocações de Itagiba e dos demais deputados da CPI (com a única exceção do deputado Domingos Dutra), a busca destas informações só pode ter dois objetivos: se prestar ou à defesa de Daniel Dantas, ou à degola definitiva de Paulo Lacerda. Itagiba passou do limite do decoro e do respeito a um servidor público ao inquirir o diretor afastado da Abin, servidor Paulo Maurício Fortunato Pires. "Ou a Abin está tentando passar atestado de idiota a todos nós ou é melhor fechar a agência"; "a Abin chegou a esse ponto por conta de uma administração não profissional, feita por quem não é da estrutura"; "Essa não é a Abin que eu conheço"; "Quem colocou a Abin nessa situação foi ele (Paulo Maurício)"; "(Para ceder os agentes) ele (Paulo Maurício) deve ter um efetivo que não tem nada para fazer"; "Assim é melhor pedir para fechar a Abin". Foram algumas das frases de Itagiba, sempre irônico e sorridente, com cara de delegado truculento, ao fazer perguntas ao servidor, nitidamente sem interesse em ouvir as respostas e sempre fazendo uma reflexão definitiva ao final das respostas, com seu juízo de valor e distorcendo o conteúdo do que foi dito pelo depoente. Preocupado em derrubar o comando da Abin, Itagiba, contudo, não havia percebido até então o ponto mais importante do depoimento: Paulo Maurício Fortunato Pires detalhou a colaboração dada pela Abin ao delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha. Foram 52 agentes de campo que, ao longo de quatro meses, Cerca de 12 fixos e outros oito ou nove que se revezavam em missões. Ajudaram o delegado a levantar informações abertas, checagem de endereços, acompanhamento de alvos, ajudaram Protógenes. A preocupação de Itagiba, do relator Nelson Proença e de todos os demais deputados era saber como que esses servidores foram alocados sem que a chefia da Polícia Federal soubesse, sem formalização, via superintendência da Abin no Rio e não em São Paulo, com dispêndios financeiros e outras questões cosméticas. Mas em nenhum momento, até então, foi feita a pergunta básica: o que levou o delegado Protógenes Queiroz a pedir essa ajuda? Por que a diretoria da Polícia Federal não era informada sobre estas investigações? Até aquele momento, o problema, para a CPI, é a Abin. Se existe uma denúncia do delegado Protógenes Queiroz sobre falta de recursos, sobre boicote da polícia a uma investigação acompanhada pela Justiça e pelo Ministério Público, isso não é problema da CPI. O show de horrores não ficou só por conta de Itagiba. O deputado Arnaldo Faria de Sá, sempre deselegante, imitou o presidente da CPI e inquiriu o depoente com socos na mesa, interrompendo as respostas antes que a frase chegasse ao verbo, com frases de efeito do tipo "isso não é a Agência Brasileira de Inteligência, é Agência Brasileira de Burrice". Faria de Sá provavelmente não sabe a lição que prestou a cerca de 15 alunos do curso de gestão de Políticas Públicas da USP, que por coincidência entraram na sessão da CPI durante os murros que o deputado dava na mesa. Ficaram por três minutos, provavelmente julgaram nada ali tinham a aprender, e foram embora. Fizeram bem. O deputado Raul Jungman, que ao que consta ainda não devolveu ao Opportunity a contribuição de campanha que recebeu (aliás, nem o deputado Itagiba deu notícia da devolução do regalo), veio municiado com informações "inéditas". Sabia quanto o delegado Protógenes Queiroz pagava de sua conta de operações: R$ 1,5 mil por quinzena para o tal Ambrósio. Sabia que a Abin gastara com a Satiagraha R$ 300 mil. Dados que não se sabe de onde o deputado tirou, mas que soaram precisos. "Sinto-me desrespeitado por este depoimento. Jamais vi nessa casa tamanha desfaçatez", disse o revoltado Jungman, citando o tribunal de Nuremberg e a "obediência cega" e outras encenações. Jungman, a bem da verdade, quase não parou na cadeira, levantando durante as respostas às questões de seus colegas, e voltando apenas para fazer suas provocações. O contraponto veio do deputado Domingos Dutra (PT/MA), único a olhar a questão sob o lado das autoridades, e não sob a ótica de Nélio Machado. "Os meus colegas estão indignados com os R$ 300 mil gastos para prender o sr. Daniel Dantas. Acho muito pouco para combater o crime organizado e o poder desse cidadão, cujos crimes são de R$ 3 bilhões. Se o sr. Daniel Dantas recebeu dois Habeas Corpus em 48 por presunção de inocência, acho que temos que estender esse princípio a todos. O Estado não pode ficar desarmado, atrás das organizações criminosas, quer seja as dos presídios, com o Fernandinho Beira-mar no comando, quer seja pelo sr. Daniel Dantas, que comanda o crime do colarinho branco. O Daniel Dantas deve estar nos assistindo, feliz. Ele foi tratado aqui nessa comissão a pão-de-ló. Ele mesmo disse que aqui falou muito porque se sentiu em casa", disse o deputado. Itagiba finalmente acordou, ou sentiu-se minimamente constrangido, com o show de horrores por ele orquestrado. E fez a pergunta que deveria ter feito antes. Pergunta que deveria dirigir aos seus apoiadores de campanha. "Que poder tem esse senhor Daniel Dantas que faz com que esse delegado que o investiga fosse procurar em outro órgão de governo o apoio necessário ao seu trabalho. O senhor tocou em um ponto muito importante. Quem tem que dirimir essa dúvida é o governo", indagou Marcelo Itagiba. O deputado não precisou esperar uma resposta do governo. Ela veio do próprio depoente Paulo Maurício Fortunato Pires: "Esse problema não é da Abin. Eu estava evitando falar isso, mas esse é um problema da Polícia Federal. O delegado Protógenes não tinha base na sede da Abin, tinha na Polícia Federal. Concordo com os senhores que não deveria haver servidores fora da estrutura governamental trabalhando no caso. Mas no nosso caso, não vejo problema, nós apoiamos, com autorização. Somos uma estrutura de Estado. E hoje a Abin se vê no meio dessa confusão, e essa confusão não é nossa. Ela entrou com apoio institucional. Seus servidores estão chateados, são achincalhados, como grampeadores, o que nós não fazemos. Estamos pagando um pato que não é nosso, com o perdão do termo. O delegado Protógenes não escalou nenhum agente, não escolheu amigos. Eu assumo essa responsabilidade. Foram seguidos os trâmites. Eu como diretor entendi que falando com meus superiores, achamos que podia ser feito. Agora, que existiu um descontrole interno dentro do departamento de Polícia Federal, houve, ainda que não seja meu papel falar isso. A decisão do apoio, não a ordem, foi tomada pela direção geral da Abin". E Nelson Proença, o relator da CPI? Esse nada fala, fica à sombra de Itagiba. O máximo que fez foi aplaudir as decisões do Conselho Nacional de Justiça em favor da centralização das ordens de interceptação, e do STJ, contra interceptações maiores do que quinze dias. Este observador preferiu não ficar para as perguntas do deputado Gustavo Fruet, as outras intervenções de Jungman e os demais inscritos. Acabou o efeito do Engov.

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