O governo dos Estados Unidos quase aperfeiçoou um método de intervenção através do qual penetra e se infiltra em todos os setores da sociedade civil de um país que julga ser de interesse econômico e estratégico. No caso da Venezuela, essa estratégia começou a tomar forma em 2002, com o aumento do financiamento de setores de oposição através do National Endowment for Democracy (NED) e a abertura de um Escritório de Iniciativas de Transição (OTI) da Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) em Caracas.
Esses esforços obtiveram a consolidação de um movimento de oposição o qual, apesar do fracasso do golpe de estado, conseguiu causar graves danos à indústria do petróleo e à economia nacional através de sabotagem e locaute por parte de gerentes e empresários.
Depois da divisão da oposição, a estratégia foi reorientada tendo como foco principal as comunidades pobres, os setores "chavistas", a mídia e as necessidades do interior do país. A embaixada dos Estados Unidos em Caracas abriu uma série de consulados-satélite (Esquinas Americanas) em cinco estados do país -- sem autorização do Ministério das Relações Exteriores -- e mantém uma presença oficial em regiões vistas como importantes para a visão energética de Washington.
Esses estados -- Anzoátegui, Bolívar, Lara, Monagas e Nueva Esparta (Margarita) -- são ricos em petróleo, minerais e outros recursos naturais, os quais os Estados Unidos buscam controlar. Esses quartéis-generais dos Estados Unidos encontraram espaço em associações de advogados e câmaras de vereadores controladas pelas oposições e continuam a funcionar como centros de propaganda, conspirando contra a revolução bolivariana.
O trabalho da USAID e sua OTI na Venezuela levou ao aprofundamento da subversão contra-revolucionária no país. Até junho de 2007, mais de 360 bolsas de financiamento foram dadas a organizações sociais, partidos políticos, projetos políticos e comunitários através da Development Alternatives Inc. (DAI), uma companhia contratada pela USAID, que abriu um escritório no setor El Rosal de Caracas em junho de 2002.
Do centro de Caracas o DAI/USAID deu mais de U$ 11.575.509,00 para 360 grupos e projetos na Venezuela sob o programa "Venezuela: Iniciativas para a Construção da Confiança"(VICC). A maioria dos programas financiados pela DAI focaliza (de acordo com os materiais divulgados) "diálogo político, debate público, participação dos cidadãos e treinamento e capacitação de líderes democráticos". Organizações participantes e financiadas incluem a Súmate, Primeiro Justiça, Um Novo Tempo, a prefeitura de Chacao, Liderança e Visão, Os do Meio, Convive, Transparência Internacional, Instituto Imprensa e Sociedade, Queremos Eleger, Universidade Metropolitana e outros grupos ligados à oposição.
A USAID-OTI também financiou os partidos políticos de oposição como o Primeiro Justiça, Um Novo Tempo, Ação Democrática, COPEI, Movimento ao Socialismo, entre outros, através dos braços internacionais dos partidos americanos: o Instituto Nacional Republicano (IRI) e o Instituto Nacional Democrata (NDI). Desde 2002, mais de sete milhões de dólares foram investidos em "assistência técnica" aos partidos de oposição da Venezuela pela USAID, junto com o IRI e o NDI.
Os assim chamados "defensores dos direitos humanos" na Venezuela e as ONGs recebem grande parte do financiamento através da Freedom House, outro grupo contratado pela USAID-OTI na Venezuela. A Freedom House patrocinou eventos como "As ameaças à liberdade de expressão no século 21" com a participação de Marcel Granier, presidente da estação de televisão golpista RCTV, junto com Karen Hughes, a subsecretária de Estado para Relações Públicas e Diplomacia Pública (o escritório de propaganda do Departamento de Estado, que supervisiona a Voz da América e outras mídias propagandísticas de Washington) e a deputada americana Ileana Ros-Lehtinen, republicana da Flórida.
A Freedom House também financia instituições dos Estados Unidos como o Centro Internacional para Conflitos Não Violentos (ICNVC) que dá cursos sobre as técnicas de resistência de Gene Sharp que foram usadas por movimentos jovens e estudantis na Sérvia, Ucrânia, Geórgia, Bielorrússia e Venezuela. O presidente da entidade durante os anos 2003-2005 foi James Woolsey, ex-diretor da CIA, e seu atual presidente, Peter Ackerman, é um banqueiro multimilionário que patrocinou "trocas de regime" na Sérvia, Ucrânia e Geórgia através do Instituto Albert Einstein e seu ICNVC. O filho de Ackerman participou do massacre de iraquianos em Fallujah.
A última companhia contratada pela USAID na Venezuela foi a Fundação Pan-Americana de Desenvolvimento (PADF), que tinha como missão "apoiar a sociedade civil". A PADF deu U$ 937.079,00 para 14 ONGs da Venezuela desde o fim de 2006. Até agora os nomes desses grupos são desconhecidos.
Os últimos relatórios da USAID dizem que em agosto de 2007 foi organizada uma conferência com 50 prefeitos de todo o país para tratar de assuntos como "descentralização" e "redes populares". Um assunto que se parece muito com o projeto de Leopoldo Lopez, prefeito de oposição de Chacao. O programa da USAID na Venezuela promete continuar sua tentativas de "fortalecer a sociedade civil e partidos políticos", "promover a descentralização e os conselhos municipais" e a "treinar defensores dos direitos humanos". O Congresso dos Estados Unidos já aprovou U$ 3,6 milhões para o escritório da USAID na Venezuela em 2007-2008, o que indica que a subversão vai continuar e ameaçar a revolução bolivariana.BoliviaMas a Venezuela não é o único alvo da subversão e intervenção através da USAID e seus milhões de dólares usados para financiar movimentos de oposição. Em março de 2004 a USAID abriu um Escritório de Iniciativas de Transição (OTI) na Bolívia, alegadamente para ajudar a "reduzir tensões em zonas de conflito social e ajudar o país a se preparar para eventos eleitorais". Nesse caso, a USAID contratou a companhia americana Casal & Associates, Inc. (C&A) para gerenciar mais de U$ 13,3 milhões que já haviam sido dados para 379 organizações, partidos políticos e projetos na Bolívia.
A C&A desempenha na Bolívia o papel que a DAI tem na Venezuela e, assim como sua congênere, tem grandes contratos com o Departamento de Defesa, o Exército dos Estados Unidos, a Marinha, o Departamento de Energia, o Broadcasting Board of Governance, a Voz da América, o Escritório de Transmissões para Cuba, o Departamento de Estado e muitos outros. Até hoje a C&A trabalhou executando programas intervencionistas para diferentes agências de Washington em mais de 40 países do mundo, inclusive a Albânia, Armênia, Bolívia, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Madagascar, Malawi, México, Nicarágua, Panamá e Paraguai.
Na Bolívia a USAID-OTI focalizou seus esforços em combater e influenciar a Assembléia Constituinte e apoiar o separatismo das regiões ricas em recursos naturais como Santa Cruz e Cochabamba. A maior parte dos U$ 13,3 milhões foram dados a programas e organizações que trabalham para "reforçar governos regionais" com a intenção de enfraquecer o governo nacional de Evo Morales; "criar ligações entre grupos indígenas e estruturas democráticas", "oferecer oportunidades econômicas e desenvolvimento comunitário", "educação cívica para líderes emergentes" e "disseminar informação". Os temas nobres destes programas indicam que Washington busca sufocar o poder nacional de Evo Morales na Bolívia, penetrar e infiltrar as comunidades indígenas, que constituem a maioria do país, promover o modelo capitalista e ter influência sobre a mídia de massa, promover capitalismo pró-Estados Unidos e propaganda anti-socialista.
Os programas da USAID-OTI na Bolívia apóiam abertamente a autonomia de certas regiões, como Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, promovendo assim o separatismo e a desestabilização do país e do governo de Evo Morales. O National Endowment for Democracy (NED), outro órgão de financiamento de Washington, financia grupos em regiões como Santa Cruz. O atual embaixador dos Estados Unidos na Bolívia, Philip Goldberg, é um especialista em questões de separatismo, tendo sido chefe da missão dos Estados Unidos na ex-Iugoslávia -- que acabou dividida em dois países, a Bósnia e a Sérvia, com ajuda dos Estados Unidos.
O governo de Evo Morales já denunciou publicamente a subversão na Bolívia através da USAID, avisando ao governo dos Estados Unidos que deve obedecer as leis do país ou sair. "A porta está aberta", declarou um porta-voz do governo boliviano recentemente, fazendo referência à intervenção dos Estados Unidos em seu país.
Apesar disso Washington não vai desistir fácil. Essa rede de intervenção e subversão não será facilmente erradicada.
O presidente Chávez propôs uma reforma constitucional que incluía o artigo 67, que proibiria o financiamento de grupos com objetivos políticos e campanhas políticas por entidades estrangeiras públicas ou privadas. É essencial definir o conceito de "objetivos políticos", já que em muitos casos as ONGs e grupos que trabalham com direitos humanos tentariam evitar a classificação de organizações com motivação "política". Mas ninguém pode negar que direitos humanos é fundamentalmente uma questão política e é nesse terreno, mais do que em qualquer outro, que hoje Washington esconde sua subversão, usando ONGs para dar cobertura.O que está claro é a necessidade urgente de desenvolver estratégias para impedir e enfrentar essa subversão na Venezuela, Bolívia e países irmãos que estão na mira do império e lutam para expressar sua própria vontade e soberania.
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